A nova colheita do branco Dona Matilde (Douro) surpreende pela frescura e acidez natural, num ano atípico, quente e difícil. O ritmo imposto pela natureza é um desafio para a Quinta Dona Matilde que se prepara para as alterações climáticas e pensa o ecossistema que tem dentro de portas com foco na qualidade.
Menor produção e maior qualidade. As novas colheitas Dona Matilde apresentam boa concentração e acidez, especialmente notória no branco da quinta, resultado de um ano vitícola fora do comum, com ciclo vegetativo mais curto que o normal e vindima excecionalmente precoce. As altas temperaturas que se fizeram sentir na última campanha vitivinícola significaram também um ano sem problemas de doenças. E uvas impecáveis, portanto.
Face às condições naturais que se apresentaram, acertar na data da vindima foi fundamental, confirmando que melhorar a cada ano o conhecimento da quinta, monitorizar e agilizar conforme o ritmo da natureza é o caminho a seguir na afirmação do projeto Dona Matilde, explica o enólogo dos vinhos Dona Matilde, João Pissarra.
A nova vinha acabada de instalar é reflexo desta postura que concilia tradição e novas abordagens na viticultura, incorporando conhecimento e tecnologia, acrescenta José Carlos Oliveira, viticólogo do projeto. São três hectares de castas tradicionais de uva tinta, menos comuns e adaptadas à realidade da propriedade, quer em termos de solo, exposição solar e clima atual – Tinta Francisca, Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Barroca e Touriga Franca e Touriga Nacional.
Plantados em talhões estremes em vinha ao alto e em terraço tradicional, os seis mil pés por hectare aportam uma densidade elevada de plantas comparando com o que vem sendo comum no Douro. Deste modo recupera-se e valoriza-se o sistema tradicional duriense de plantação, de compasso apertado, embora sejam melhoradas as condições de acesso para granjeio e colheita. Por esta prática, cada planta produz menos e com mais concentração, permitindo melhores mostos, sendo também possível mais produção, uma vez que, no conjunto, temos mais plantas.
A aposta na diversidade de castas irá também permitir personalizar e enriquecer o perfil dos vinhos da quinta e é uma forma de responder às alterações climáticas, aumentando as alternativas quando as condições da natureza criarem especial dificuldade para uma ou outra casta.
A par, a Quinta Dona Matilde estuda uma forma de instalar a possibilidade de rega, para situações pontuais e de seca extrema.
Entre o ecossistema da Quinta Dona Matilde inclui-se o olival, do qual é produzido azeite que este ano é colocado no mercado pela segunda vez (primeira edição apenas na exportação).
Atualmente, a quinta possui 1100 oliveiras cadastradas e a produzir, mas são muitas mais, como indica o registo no antigo livro de visitas do fundador, onde este anotava também todos os desenvolvimentos da quinta, plantações, etc., no qual refere a instalação de cerca de 10 mil oliveiras em meados do século passado.
“O meu avô sempre achou que a monocultura no Douro não era razoável e foi procurando diversificar, plantando diversas árvores de fruto além da vinha, desde logo as oliveiras. Neste ponto foi muito apoiado por um amigo que era Conselheiro de Estado, Trigo de Negreiros, que também era produtor de vinhos e olival no Douro Superior e que acreditava que o olival era o futuro do Douro”, conta Manuel Ângelo de Barros, diretor geral da Quinta Dona Matilde, lembrando que esta é uma história que se mantém atual: aos poucos e poucos o azeite vem conquistando um lugar nos projetos de vinhos, nomeadamente do Douro, que luta agora pela Indicação Geográfica Protegida (IGP).
“O azeite é a afirmação da qualidade dos produtos da quinta e acreditamos que no futuro vai ser um complemento interessante da nossa atividade”, conclui Manuel Barros.
No total, foram produzidas 600 garrafas de azeite Quinta Dona Matilde que tem um PVP de 12,9 euros.
A quinta Dona Matilde situa-se na margem norte do rio Douro na marginal entre a Régua e o Pinhão, na zona da barragem de Bagaúste. É uma das mais antigas da Região Demarcada do Douro e está na posse da família Barros há 91 anos.
A quinta possui duas vinhas velhas que são para manter e valorizar, realça Filipe Barros, diretor de Marketing e Vendas deste projeto familiar: a vinha do Pinto, com 90 anos, e a vinha dos Calços Largos, que tem quase 70 anos. A vinha mais recente em produção tem 20 anos.
Com foco na qualidade, a quinta mantém a aposta na produção de vinhos de mistura de castas, os tradicionais blends portugueses, com um perfil elegante, sem muita extração e suavemente marcados pelo estágio em madeira, aromas complexos, concentrados e com uma longevidade capaz de oferecer surpresas aromáticas, fruto do passar do tempo.
Dona Matilde branco 2017
Produzido a partir das castas Arinto, Viosinho, Rabigato e Gouveio. Aroma intenso, muito jovem e fresco, marcado por notas citrinas de limão e tropicais de ananás mas onde se encontra também a presença de melão muito fresco. Na boca é um vinho untuoso de sabor muito jovem e com bom volume mas cuja a acidez lhe traz muita frescura e persistência.
PVP 8,90 euros.
Dona Matilde tinto 2015
Produzido com variedades tradicionais da Região Demarcada do Douro, predominando as castas Touriga Nacional, Touriga Franca e também Tinta Amarela, esta última colhida nas Vinhas Velhas da quinta. Com aroma jovem, fresco e frutado, este é um vinho macio, com muito volume de boca e final prolongado.
PVP 8,90 euros
Dona Matilde Reserva tinto 2015
Vinho com pisa a pé em lagares tradicionais de granito, produzido a partir de uvas de vinhas velhas da quinta, com mais de 15 castas diferentes e onde predomina a Tinta Amarela, e ainda uvas resultantes de uma escolha minuciosa de castas, como a Touriga Nacional e a Touriga Franca de vinhas plantadas há cerca de 20 anos. Parte do lote estagiou em barrica de carvalho francês durante 20 meses. Aroma complexo e intenso a mentol e figo misturado com morangos e final a especiarias, café e baunilha. Na boca, tem um sabor fresco, muita estrutura, volume e um final bastante prolongado.
PVP 20 euros
Dona Matilde Porto Colheita 2010
O Vinho do Porto Dona Matilde Colheita é um Tawny de qualidade superior, de uma única vindima, produzido a partir de uvas da quinta. Engarrafado em 2017, este Tawny Colheita de 2010 apresenta uma cor vermelho granada, comum no Porto Vintage de meia-idade. Teve como enólogo João Pissarra e acompanhamento muito de perto de Manuel Ângelo Barros, habituado, durante décadas, a intervir ativamente na composição dos blends de Vinho do Porto Barros e assim dando continuidade a esta tradição familiar.
PVP 29 euros
Redes Sociais