Jantar atribulado
por Mário Rodrigues
Há uns 15 anos atrás, o dono de um estabelecimento queria que eu escrevesse sobre a sua casa. Insistia para que o visitasse, pois tinha um suposto restaurante, em que a sua mulher confeccionava umas peças de caça extraordinárias, segundo ele. Este espaço, que já não está aberto, ficava numa zona rural afastada em plena serra no norte do país. Um dia, sabia ir passar naquela localidade, disse-lhe perante a insistência, que então seria a altura e combinámos jantar. Como vinha de um trabalho era acompanhado por um fotógrafo, portanto seria mais uma pessoa.
Combinado o repasto, chegámos, reparei que era uma casa particular onde o chamado restaurante, funcionava na garagem, que tinha sido alterada. Feitas as honras da casa e chegada a hora do jantar, começámos a ver chegar mais algumas pessoas, que para meu espanto, eram também convidados.
Começado o jantar, apercebi-me que o dito senhor era bastante copofónico e ainda o jantar mal tinha começado, já estava o “caldo bastante entornado”. No decorrer da incómoda refeição, quis saber o que eu achava , não fui nada positivo, pois pelo que tinha provado era algo sem interesse. Inclinou-se para o meu lado, aliás sem grande dificuldade, e segredou-me que só admitiria uma crítica positiva, caso contrário tinha atrás do balcão uma caçadeira e estariam na mesa pessoas locais, que ele dizia importantes e referiu quem eram, portanto a coisa só poderia correr bem para ele. Quando esses convidados se aperceberam que algo não estaria bem, começaram a levantar-se discretamente, e quando dei conta estava praticamente só com o fotógrafo na mesa, a quem segredei que seria uma excelente ideia ele guardar rapidamente as nossas coisas no carro e ainda mais rapidamente desampararmos a tasca.
Foi o que fizemos, e que me recorde foi o jantar mais “pesado” em que estive, com uma retirada, essa sim bastante mais leve e ligeira.