O chef Vítor Sobral desafia-se mais uma vez, agora com o restaurante Lota da Esquina, no antigo edifício da Docapesca na baía de Cascais, com cerca de 400 lugares, dois pisos e uma esplanada, o seu maior projeto, em espaço e desafio, que reflete a permanente criatividade, técnica e ambição do chef

A nova proposta do chef Vítor Sobral chama-se Lota da Esquina e presta tributo à tradição piscatória da vila de Cascais e aos homens do mar. Com duas salas de restaurantes, uma esplanada e dois bares (um deles com uma área para dançar), este é o espaço mais ambicioso e multifacetado onde Vítor Sobral assume o papel de chef executivo. “A premissa de que o projeto deveria promover a vila de Cascais e, sobretudo, os seus pescadores foi a principal motivação que me levou a aceitar e a abrir a Lota da Esquina. Manter o nome de lota é sinal disso mesmo, um tributo a esta cultura piscatória. De outra forma era mais difícil lançar-me num projeto desta dimensão. Com exceção da cervejaria Lusitana, há muitos anos atrás, onde servia cerca de 1300 refeições por dia, a minha estratégia dos últimos anos, que criei com as Esquinas, foi a de não ter um restaurante com mais de 100 lugares. A Lota da Esquina tem mais de 2000 metros quadrados e capacidade para cerca de 400 lugares no interior e esplanada. É um grande desafio, e só com muita determinação e energia, que tenho de sobra, é que se consegue gerir um projeto desta envergadura”.

O novo espaço divide-se nos quatro elementos: Água, Fogo, Terra e Ar, cada um no seu espaço. No piso térreo, privilegia-se o peixe e o marisco no restaurante dedicado à água, onde a carta varia diariamente consoante o pescado que estiver disponível no mercado no próprio dia. As propostas de peixe marinado ou de ceviche de peixe branco são exemplo disso, seja para consumo individual ou para partilhar. Este conceito de partilha faz parte do ADN do chef Vítor Sobral, que o marca desde a abertura da Tasca da Esquina, há 13 anos, e que manteve na Peixaria, sendo este último considerado o ponto de partida para a atual Lota da Esquina. Escolhido o peixe pelo cliente, este pode optar pela sua confeção quer seja grelhado no carvão, numa moqueca, arroz, massada ou caril.

A excelência do produto é a prioridade máxima do chef Vítor Sobral, que se alia à experiência da equipa, que trabalha com o chef há mais de sete anos e que provém dos outros restaurantes, em particular da Peixaria da Esquina, cuja essência foi agora transportada para a Lota da Esquina. A rede de fornecedores não podia ser mais genuína. Vítor Sobral trata os pescadores por “tu”, conhece-os bem fruto do grande trabalho que tem feito na defesa de alimentos de qualidade e de os ir buscar directamente à fonte.

Ao lado, o bar Ar acolhe os clientes enquanto aguardam pela mesa ou que simplesmente que pretendam beber uma bebida num puro momento de descontração.

Já no piso de cima, os conceitos são fogo e terra. Na sala dedicada ao Fogo, cuja abertura está prevista para dezembro, os legumes e a carne são cozinhados sobretudo ao lume do carvão que aquece esta cozinha, independente do espaço em baixo, assim como a própria equipa. Aqui, a garantia é a de que os alimentos são biológicos, seja a carne ou os legumes, onde o principal conceito é trabalhar o menos possível cada produto, com os pratos a terem no máximo 4 ou 5 passos, privilegiando-se os grelhados. “Cada vez mais, eu e a minha equipa pretendemos que o cliente identifique facilmente o que está a comer e que perceba a alta qualidade da proteína e de todos os ingredientes que estão no prato”, defende o chef Vítor Sobral.

Vitela, cabrito, borrego, porco ou legumes grelhados, o ponto comum entre todos é o respeito pela gastronomia lusófona e pelo produto, a que o chef Vítor Sobral já nos habituou ao longo da sua carreira. E se no Mar a carta inspira-se no trabalho realizado na Peixaria da Esquina, no Terra o cliente poder encontrar muitas semelhanças com o anterior restaurante Talho da Esquina. Além dos cortes nobres, aqui vão ser servidas todas as partes dos animais, como as miudezas bovinas, caprinas e suínas. Vai haver tutano, língua de vaca, molejas, fígado de porco e rins de borrego mas também perna de borrego, lombo de porco ou carne maturada. A carne e os vegetais vêm diretamente do produtor, tal como os queijos, que provêm de diferentes origens conforme o produto.

Em ambos os espaços, as harmonizações são sugeridas maioritariamente com vinhos portugueses, onde pode ser encontrada também uma grande seleção de vinhos biológicos.

No exterior, na esplanada Ar, serve-se champanhe e espumante acompanhados por ostras e marinados, com sabores leves para enaltecer o elemento ar. São sobretudo pratos para partilha, como os petiscos, saladas de bivalves ou de marisco, entre as várias propostas que convidam à boa conversa, como manda a tradição portuguesa.

Mas a grande novidade do Lota da Esquina, que marca a diferenciação da restauração do chef Vítor Sobral, é o bar Terra com espaço de animação. Aliar a restauração ao divertimento é uma tendência que tem vindo a crescer, e que vai ao encontro da vontade de Vítor Sobral de proporcionar um espaço onde os clientes podem conviver, dançar e permanecer após uma boa refeição. O Bar Terra está localizado no primeiro andar e pretende ser um reflexo da mistura de nacionalidades que convivem em Cascais, com bebidas e cocktails do mundo inteiro. Ao lado, o espaço de dança é animado com música ao vivo ou por um Dj, sempre com a garantia de boa disposição e descontração.

Água, Fogo, Ar e Terra, cada zona tem um ambiente sofisticado e uma decoração distinta que abraça os diferentes conceitos, fruto de ideias partilhadas entre o chef Vítor Sobral, o sócio Miguel Herédia, as equipas de sala e de cozinha e as arquitetas de interior Alexandra de Sousa Ramos, da ASR Architecture&Interior Design, Alexandra Marçal, da AM Interior Design, e Fernanda Leote, dando origem ao grupo de trabalho FL.AM.ASR, que junta as iniciais dos nomes das três arquitetas. Apesar das dimensões, todo o espaço foi concebido para criar recantos onde os clientes podem desfrutar das refeições com conforto e alguma privacidade, a partir dos quais todos os olhos se viram para a instalação de Gonçalo Ghira, na parede do piso superior.

Com 55 anos e 36 de experiência como cozinheiro, Vítor Sobral soma este novo restaurante aos espaços que coordena, nomeadamente, a Tasca da Esquina, a Taberna da Esquina, o Pão da Esquina, a Oficina da Esquina, na ilha Terceira, e os seus projetos no Brasil, a Tasca da Esquina em São Paulo.