O chefe Marco Gomes do restaurante oficina,  é um defensor da produção alimentar tradicional que combina técnicas e sabedorias ancestrais e que sejam relevantes para o bem-estar das populações

SUBSISTIR – a defesa da ruralidade

O Homem rural é um ser habituado a viver em sintonia com o ambiente. Já repeti com muita frequência esta ideia. Hoje quero falar de uma das qualidades que possui. A capacidade de resolver e SUBSISTIR. 

A vida no campo não exige muita tecnologia na sua essência. Em Portugal a tecnologia moderna só apareceu há 50 anos e teve uma progressão lenta. Nos anos 90 ainda era comum as estradas do interior serem partilhadas entre carros de bois e automóveis. A necessidade aguçava o engenho e impulsionava as pessoas a concretizar com tão poucos recursos: muros, levadas, moinhos, caminhos, represas, tanques, minas de água, casas, igrejas… Todos eram um pouco de tudo. Cada um era o seu próprio padeiro, ferreiro ou pedreiro. Qualidades que hoje desapareceram. Como vivemos do ordenado e compramos tudo o que necessitamos, não desenvolvemos essas qualidades. 

Está na hora! Está na hora de parar para pensarmos. 

Precisamos de um futuro sustentável, cada um de nós pode ser parte da solução para os desafios que enfrentamos no século XXI. Se não respeitarmos o solo, estamos a desrespeitarmo-nos a nós próprios. O solo é a base da construção da civilização. 

 PLANTAR, AMAR, COLHER E COMER 

Dizem que a produção de alimentos tem que duplicar até ao ano 2050, para satisfazer a necessidade do crescimento populacional. O maior problema que encontramos no mundo é a agricultura industrializada, a mesma definiu o perfil nutricional da sociedade, leva as pessoas a acreditar que determinado alimento fora de época, enorme e com boa apresentação é um bom alimento. Na verdade, esse alimento é injetado e tratado à base de químicos.   

É importante habituarmo-nos que as coisas levem o seu tempo.

Apesar dos problemas do mundo serem cada vez mais complexos, as soluções continuam completamente simples. A resposta a todos os problemas do mundo é plantar comida, temos mesmo que preservar a biodiversidade porque é no mínimo, do nosso interesse. A ideia de criarmos comida alcançamos uma comunidade mais coesa. Se interligarmos a comunidade à comida, alteramos o que a comida significa e o seu valor.

No interior os animais são os funcionários do agricultor, fertilizam as arvores, providenciam os nutrientes e o estrume para a terra, afastam os insetos e comem as ervas daninhas. Divertem-se imenso a trabalhar o dia todo, estes sim, são felizes e mantêm as plantas felizes. 
As hortas permitem produzir alimentos saudáveis, as pessoas não necessitam de se preocupar se a comida chega ao não aos supermercados. Estas mesmas pessoas sempre tiveram carne, ovos, galinhas, legumes e frutas. 
Não devemos ter medo de substituir o centro das grandes cidades por ambientes mais urbanos e mais resistentes, estes são mais favoráveis, podendo produzir mais das nossas necessidades. 
Será que hoje em dia as pessoas têm maior qualidade de vida? Talvez, mas não comem alimentos saudáveis, nem olham para o alimento como sagrado. 
E quando aparece uma guerra como esta que estamos a viver, será com este estilo de vida actual que temos mais meios para SUBSISTIR?

Por chef Marco Gomes