Uma experiência que me emocionou, pela simplicidade genuína, qualidade dos sabores em intimismo único, no canto, mesa e lugar, onde o seu pai, seu inspirador de sempre, ribatejano de gema, por pouco tempo ainda ali se sentou comendo as iguarias a que em conjunto se habituaram ao longo da vida
Este espaço tem 3 anos e é tipicamente ribatejano. Um balcão já antigo do lado direito quem entra, decoração de azulejos nas paredes uma delas forrada com pratos do tempo das nossas avós, um televisor com filmes (sem som) passados no ribatejo e do tempo em que se sabia fazer cinema em Portugal, complementa com música ambiente de fado corrido. As mesas são em madeira tosca com tampos de taberna em mármore branco e uma enorme ardósia por cima de um balcão de acesso à transparente cozinha, com a ementa de todas as perdições bem visível, criada por verdadeiros petiscos perdidos no tempo onde os peixinhos do rio têm lugar sonante.
A aposta no vinho a copo é uma realidade, onde os clientes podem escolher qualquer um dos vinhos da carta de valor até 12€.
O excelente azeite de Anadia abre a sessão, seguida de um indescritível picadinho de peixe do rio, com lagostim uma verdadeira perdição que foi acompanhada por vinho da região, o Bridão branco de 2015 das castas arinto e Fernão Pires. Seguiu-se um Croquete de toiro, de rabo de boi, agora com Encosta Sobral Selection de 2014, um branco do Tejo. Não podia faltar uma sopa de peixe do rio com ovas de barbo, que ouvi um cliente dizer ser acima de qualquer estrela, a que o mesmo branco Sobral ainda fez companhia. O lúcio, peixe quase já mandado às urtigas, surge aqui em todo o seu esplendor, em vinagre de figo com puré de ervilha e harmonizado com o Tyto Alba de 2015, um Sauvignon blanc também do Tejo.
Passei a seguir para passarinhos com molho malagueta doce em parceria agora com tinto Casal do Conde, um reserva de 2012. Sável frito creme de ovas e fígados do mesmo, foi o que se seguiu e só provando, fantástica combinação agora com o Lagoalva reserva 2013. Passei finalmente a um pica-pau de toiro, uma excelente aposta ribatejana de carne maturada de 21 dias, com batata-doce crocante às rodelas, uma verdadeira tentação a que mais um vinho da região fez companhia, o Bridão Private Collection de 2013.
A sobremesa, simples e única composta por um saboroso gelado de melão com compota de pimentos assados e nogat de pevide de abóbora a que mais um vinho da região fez as devidas honras, um colheita tardia da Adega do Cartaxo.
Até o ribatejano nome Ó Balcão, pois os ribatejanos não dizem “vou ao Balcão”, se ajusta a esta casa de um homem que um dia sonhou e a obra nasceu. Emprega cerca de 10 pessoas na cozinha e sala, pessoas que conhecia e estavam desempregadas ou ainda sem rumo certo, apostando na sua formação, cozinha e vinhos, tornando-as profissionais de referência em que o prazer de bem servir é por demais evidente.
O chef Rodrigo Castelo é sem dúvida alguma uma referência no panorama da nossa gastronomia, a nível nacional e internacional, por tudo o que aqui descrevo e possivelmente injusto pelo que não consigo transmitir. A família, a simplicidade e os valores são as raízes que Rodrigo afetivamente segue do seu pai.
As costas do chef Rodrigo Castelo são o destino de valentes e sonantes palmadas ribatejanas de clientes e amigos, que depois da refeição vi virem entusiasticamente na sua direção, para o felicitarem por aqueles momentos de indiscutível prazer que a mesa ribatejana da Taberna Ó Balcão lhes proporcionou.
A Taberna Ó Balcão um restaurante de indiscutível interesse e uma referência cultural enogastronómica regional e nacional.
Taberna Ó Balcão
Morada: Rua Pedro de Santarém, 73,
2000-223 Santarém
Telefone: 243 055 883
E-mail: [email protected]
por Mário Rodrigues em maio de 2016
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