Anualmente ajudar a criar vinhos que cada vez espelhem mais as características do local onde as vinhas estão plantadas, é um desafio.
Rui Walter da Cunha, consultor viti-vinícola, produtor, é natural de Santo Ildefonso, Porto. Durante o liceu, após a conclusão do 9º ano, teve a oportunidade de acompanhar parcialmente uma vindima da Qta. do Bom-Retiro. Ainda hoje não sabe se foi o poder limpar o chão da adega, despejar os bagaços de dentro das cubas com uma forquilha, a ida aos bailaricos locais, as madrugadas para se apanhar bagos pela fresca, a possibilidade de beber cervejas e vinho sem o controlo dos pais…
Qual o seu percurso profissional?
Licenciado em Enologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Pós Graduado em Marketing de Vinhos pela Universidade Católica Portuguesa. Participação em diversas formações na área da viticultura e enologia, em Portugal e em França.
Como enólogo quais são os seus maiores desafios?
Anualmente ajudar a criar vinhos que cada vez espelhem mais as características do local onde as vinhas estão plantadas.
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
Pergunta com inúmeras respostas possíveis… A evolução na qualidade dos vinhos brancos e tintos, principalmente nas categorias de baixo preço e o interesse e conhecimento crescente por parte do consumidor.
O que acha do serviço de vinho nos restaurantes em Portugal?
Infelizmente ainda muito deficiente, mas muito melhor quando comparado com o século passado.
O que pensa do serviço de vinho a copo?
A ideia acho excelente. A prática de serviço em si, infelizmente, ainda é muito deficitária na maioria dos restaurantes que a praticam.
O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
É um assunto muito subjetivo pois estamos a interferir com os nossos sentidos. Às vezes é levado tão ao extremo que afasta os consumidores, outras não passa de sugestões levianas dadas por pessoas sem o mínimo de formação… O princípio de explicar ao consumidor que existem vinhos que combinam melhor com determinado prato é fundamental para a evolução deste, desde que, obviamente, bem justificado. Claro que se um cliente estiver desejoso de beber um branco seco, leve, aromático e fresco com uma alheira de Mirandela está obviamente no seu inteiro direito.
Qual a experiência recente em restaurante que melhor o impressionou?
Foi este ano em Copenhague, no restaurante Mielcke & Hurtigkarl onde o chefe Jakob Mielcke e o sommelier José Santos criaram um menu de degustação onde cada prato confecionado com uma qualidade e originalidade impar acompanhou de forma surpreendente cada um dos vinhos portugueses servidos. Ainda mais surpreendente para mim foi o profissionalismo de toda a equipa da cozinha e sala que fez com que todo o serviço decorresse de forma tranquila e simpática atendendo a que estavam a servir um grupo de mais de sessenta pessoas.
Qual foi o vinho que provou recentemente que mais o sensibilizou?
Um vinho branco de 1950 do produtor Jorge da Silva, Banzão, recomendado pelo sommelier João Chambel da garrafeira Estado de Alma que tive a felicidade de partilhar com a minha namorada.
Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado no que concerne à produção, distribuição e consumo?
A produção terá, que cada vez mais, saber ajustar os seus vinhos em função dos respectivos mercados/consumidores.
A distribuição (moderna, horeca e digital) terá que prestar cada x mais um serviço no ato da venda e praticar preços corretos. (O consumidor consegue facilmente e rapidamente confirmar o preço dos vinhos.)
O consumidor procurará cada vez mais vinhos autênticos.
O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
A evolução tem sido francamente positiva pese o facto de os vinhos portugueses ainda serem uns “ilustres desconhecidos” em muitos mercados com potencial de aquisição.
Felicito o trabalho da Viniportugal que, com um orçamento limitado, tem contribuído para este sucesso.
Qual a história que mais o marcou desde que trabalha nesta área?
Não é uma história, mas sim a minha realidade. Ter podido estagiar durante vários anos ao lado do Eng. João Nicolau de Almeida e do Eng. Paulo Ruão e com eles ter apreendido que o bom vinho tem que ter sempre um lado científico e outro intuitivo.
por Mário Rodrigues
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