O maior desafio foi talvez a primeira vindima como enólogo no Esporão, em 2004. Para além da responsabilidade exigida, foi uma vindima muito longa
Luis Patrão, enólogo do Esporão, sendo natural da Bairrada era comum fazer vinho em casa para consumo próprio. Ainda em pequeno via o seu pai a fazer vinho em casa da avó. Mais velho, antes de entrar na faculdade, durante as férias de Verão, trabalhou numa cooperativa da região durante o período da vindima. Gostou da experiência e isso ajudou na opção da faculdade.
Qual o seu percurso profissional nesta área?
A primeira vindima a sério foi em 1999 na Taylor’s, que é uma das mais importantes casas de Vinho do Porto. Quando terminei a faculdade, viajei um pouco pelo mundo e fiz vindimas na Califórnia, na Rosenblum Cellars, conhecida pelo Zinfadel. Na Austrália estive na em Cape Jaffa Wines onde ouvi pela primeira vez falar em viticultura biodinâmica. No Chile estive na Cousiño Macul. Em 2003 comecei a trabalhar no Esporão e em 2005 iniciei o Vadio, projeto familiar na Bairrada.
Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade nesta área?
Talvez a primeira vindima como enólogo no Esporão, em 2004. Para além da responsabilidade exigida, foi uma vindima muito longa. Felizmente tive o apoio de dois grandes professores, o David Baverstock e a Sandra Alves. Em termos de qualidade, foi sem dúvida um dos melhores anos que tive. Fizemos o primeiro Torre do Esporão.
Na sua opinião o que deveria ser alterado na postura de alguns dos restaurantes e hotéis relativamente ao serviço de vinhos?
Melhorar a oferta de vinhos a copo, temperaturas de serviço e copos.
O que acha da evolução dos vinhos portugueses em termos de penetração no mercado mundial?
Acho que tem melhorado. Começa a haver uma estratégia comum por parte dos vários organismos que fazem o trabalho de promoção dos vinhos portugueses e os resultados começam a surgir. A imprensa internacional especializada aponta-nos como a “the next big thing”. Os restaurantes internacionais de topo, que até agora só tinham Portos, Madeiras ou Moscateis (como referências de Portugal), hoje em dia começam já a incluir vinhos de mesa, e isso é a prova que o trabalho está a ser bem feito. Estamos a ter os primeiros resultados da construção da marca Vinhos de Portugal, e agora é aguardar um pouco para que isso chegue às prateleiras das lojas.
Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
Vou contar como vim parar ao Esporão. Tudo começou numa viagem à Austrália, em que viajava com uma amiga para fazermos um estágio de vindimas. Na última escala de avião, entre Melbourne e Adelaide, estávamos cansadíssimos e a minha amiga vinha a praguejar em bom Português porque tinha pedido para vir à janela e tinham-na colocado no corredor. O David Baverstock, que é meu chefe no Esporão, vinha atrás e meteu-se connosco a dizer-nos para termos mais cuidado que ele entendia Português. Falamos mais um pouco e ele disse que era o enólogo do Esporão. Explicamos-lhe o que estávamos a fazer na Austrália, ele fez o convite para fazermos a vindima no Esporão. Eu fiz a vindima, e estou no Esporão até hoje.
Qual o vinho que teve oportunidade de provar que mais o surpreendeu e de que país?
Esta é sempre a mais difícil de responder. Não gosto de escolher vinhos, prefiro falar da experiência em que os provei. Gostei muito de uma vertical que fiz com o David Guimaraens de vintages. Foi uma aula de enologia e história.
Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
O novo restaurante do Chefe português Nuno Mendes em Londres, Chiltern Firehouse. Para além da enorme sensibilidade da cozinha do Nuno Mendes, o ambiente do restaurante é extraordinário e quando entramos parece que estamos num filme James Bond. A proposta, segundo o Nuno, é que as pessoas possam provar alta cozinha num ambiente muito descontraído. É um grande embaixador de Portugal e dos vinhos portugueses no mundo.
por Mário Rodrigues
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