O meu maior desafio foi e continua a ser o de querer fazer sempre melhor, sempre à procura da excelência, colocando regularmente tudo em questão.
Jorge Rosas natural do Porto é administrador / director de exportação da A. Ramos Pinto Vinhos S.A., produtor vitivinícola da Quinta da Touriga e Membro da Chancelaria da Confraria do Vinho do Porto
-Como e quando despertou para o mundo do vinho?
Tenho o privilégio de ter nascido no seio de uma família ligada ao mundo dos vinhos há várias gerações e portanto diria que esse despertar aconteceu cedo e de forma muito natural porque desde sempre me recordo do Douro.
O meu pai, José António Ramos Pinto Rosas, era então administrador da Casa Ramos Pinto (ARP) e um homem profundamente ligado ao Douro. Foi lá, nas Quintas da ARP, que passei com ele grande parte da minha infância.
-Qual o seu percurso profissional nesta área?
Os primeiros trabalhos remunerados que fiz foram na ARP, durante as férias do liceu, por altura das vindimas, onde colaborava na realização de análises laboratoriais, microvinificações, etc.
Em 1986 assinei o meu primeiro contracto formal com a ARP e comecei por exercer funções relacionadas com o mercado nacional, passando mais tarde a tratar dos mercados de exportação.
Em 1992 parti para Reims, para trabalhar no Champagne Louis Roederer, empresa proprietária e distribuidora dos vinhos ARP em França, onde desenvolvi funções na área comercial que, entretanto me levaram também a trabalhar na Bélgica e no Reino Unido, tendo regressado a Portugal em 1995 para assumir o cargo de Director de Exportação da ARP.
Em Março de 2012, fui nomeado administrador da ARP, função que exerço actualmente.
Independentemente da minha ligação à ARP, tornei-me vitivinicultor, quando em 1996 herdei a Quinta da Touriga no Douro Superior, facto que contribuiu de forma inequívoca para alargar a minha visão, de uma forma mais transversal, de todo o negócio dos vinhos.
-Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade nesta área?
O meu maior desafio foi e continua a ser o de querer fazer sempre melhor, sempre à procura da excelência, colocando regularmente tudo em questão.
Por vezes há procedimentos que estão de tal forma estabelecidos e enraizados, que nem nos lembramos de perguntar se são os melhores e os mais correctos.
É algo que tento fazer de forma constante e que me parece determinante na minha actividade profissional.
-Na sua opinião o que deveria ser alterado na postura de alguns dos restaurantes e hotéis relativamente ao serviço de vinhos?
Estou convencido de que fundamentalmente deveria haver muito mais formação. Vejamos, Portugal prima quer pela qualidade das matérias-primas agrícolas, bem como pelo peixe e pelo marisco, que raramente têm paralelo noutros países da Europa. Por outro lado, temos a sorte de termos recebido de herança um património gastronómico excepcionalmente rico e variado. Por tudo isso, os restaurantes portugueses, de uma forma geral são bons, mas precisam necessariamente de gente aindamais qualificada, não só relativamente ao serviço dos vinhos mas a tudo resto.
-O que acha da evolução dos vinhos Portugueses em termos de penetração no mercado mundial?
A evolução tem sido relativamente boa, mas ainda há muito, mas mesmo muito, a fazer. Se tomarmos em linha de conta a qualidade, a relação preço/qualidade e a diversidade dos vinhos portugueses, parece-me evidente que ainda não temos a notoriedade que julgo merecermose que foi alcançada por países como a França, a Itália, a Espanha e mesmo o Chile. Apesar de tudo, os vinhos portugueses continuam ainda a ser desconhecidos numa grande parte dos mercados de exportação, à excepção do Vinho do Porto que continua presente nas prateleiras dos quatro cantos do mundo. Mas mesmo esta denominação precisa de mais dinamismo, mesmo a nível nacional.
-Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
São inúmeras as histórias que marcam a minha actividade profissional mas a que mais me orgulha tem um cariz muito pessoal e tem a ver com o facto de ter conseguido transformar um sonho em realidade, dando andamento ao projecto da Quinta da Touriga, que o meu pai idealizou e construiu como sendo a propriedade vitícola perfeita, apoiado nos seus 50 anos “know-how” em viticultura.
O facto do D.O.C. Douro Quinta da Touriga-Chã ter vindo a ser reconhecido de forma consistente pela imprensa da especialidade como sendo um dos melhores vinhos produzidos no Douro é algo que me dá uma enorme satisfação e que, naturalmente, me motiva para tentar fazer cada vez melhor.
-Qual o vinho que teve oportunidade de provar que mais o surpreendeu e de que país?
É-me muito difícil escolher “O” vinho que mais me surpreendeu, porque tenho tido a sorte de provar muitos vinhos extraordinários de várias proveniências, mas identifico, com facilidade, o vinho que nestes 30 anos mais me emocionou. Foi um Porto Ramos Pinto de 1847, que penso ter sido vinificado na Quinta do meu trisavô, pai do fundador da empresa ARP.
Na minha lista de preferências aparecem obviamente as denominações Porto e Douro, mas também os vinhos da Madeira, que estão sem dúvida entre os melhores produzidos no mundo mas que infelizmente muito pouca gente conhece, os grandes vinhos da Borgonha, de Bordéus, de Champagne e da Toscânia.
-Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
A minha vida profissional tem-me proporcionado viajar bastante e nesse sentido tem havido vários restaurantes que, desde a Ásia à América, me têm proporcionado experiências únicas. Tendo que eleger um escolheria o “Auberge de l’ill (www.auberge-de-l-ill.com), que recordo por ser um dos estabelecimentos que mais me marcou pela sofisticação a todos os níveis, quer na carta de vinhos (elaborada por Serge Dubs –eleito melhor “sommelier” do mundo em 1989), na qualidade e na apresentação dos pratos servidos, na simpatia e profissionalismo do acolhimento, quer na arquitectura do edifício (típica da região da Alsácia) e no enquadramento do restaurante propriamente dito.
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