Natural de Trevões – São João da Pesqueira –desde criança, nasceu no meio. Os seus pais trabalhavam (e trabalham) na Quinta dos Lagares (Vale Mendiz) e viveu lá com eles até aos 19 anos
Desde os 14 anos, Luís Leocádio fazia vindimas e acompanhava a adega e os vinhos, sendo que ano após ano esses trabalhos e responsabilidade ia crescendo. Foi o principal motivo, a par dos aconselhamentos do Eng Lencart (proprietário) em seguir / estudar Viticultura e Enologia
Qual o seu percurso profissional?
Enquanto estudava trabalhei na FNAC (livraria) em part-time e acompanhava a Quinta dos Lagares. Ia fazendo vindimas, nomeadamente na Quinta dos Canais (Syminthon), Quinta da Pedra, Quinta do Cais, Quinta da Laje e Quinta da Veiga. Em 2011, comecei a trabalhar na Vines e Wines (empresa de viticultura e enologia) no Dão, Bairrada e Beira Interior. Em 2013, decidi voltar para o Douro e fui colaborar com um Enólogo, professor e amigo, João Cabral Almeida, nos projectos da Quinta da Calçada, Quinta da Veiga, Quinta do Estanho e os vinhos Camaleão. No início de 2014, apareceu a oportunidade da Quinta do Cardo, o desafio era aliciante e a oportunidade certa para capitanear uma mudança nos vinhos da Quinta, onde permaneço até hoje. Além disso, tenho a minha empresa, faço os meus vinhos “Titan of Douro” e dou consultorias a alguns projectos: Quinta dos Lagares, Quinta do Estanho, Quinta da Cuca, no Douro; Palácio Anadia, no Dão.
Como enólogo quais foram os seus maiores desafios?
A mudança na Quinta do Cardo! Chegar a um projecto que iria iniciar-se na produção de vinhos biológicos, fazer perceber à empresa (Companhia das Quintas, na altura) que um vinho biológico não é apenas mais um argumento de venda. Na Quinta do Cardo sempre se quis seguir a receita do Douro e do Alentejo, e aprendi na minha primeira vindima lá, o que as uvas me queriam dizer, a história que queriam contar. Dessa vindima resultaram grandes vinhos (muitos deles no mercado actualmente), vinhos cheios de caracter, identidade e personalidade, e não segui de forma alguma protocolos de vinificação nem receitas, dei apenas liberdade para as uvas e os mostos se exprimirem! Claro, trouxe-me muitos problemas, na altura existia um consultor Australiano, completo desconhecedor dos vinhos portugueses e ainda mais da Beira Interior, que detestava os vinhos, já se falava em vender os vinhos a granel, em queima-los, em vender a Quinta…Mas felizmente saiu o primeiro branco para o mercado, depois o tinto, o mercado reagiu muito bem e fui ganhando independência e mais liberdade criativa, aliás, está à vista no mercado, havia inicialmente 4/5 referencias de portfolio e neste momento, doze. Por várias vezes costumo dizer: Toda a gente olhava a tela, e ninguém via ali a arte!
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
O mercado evolui, muito, bem e rapidamente! O importante foi mesmo o conhecimento ao nível dos profissionais (restaurantes, Wine bares, Garrafeiras…) e do consumidor, ou seja, hoje temos publico e serviços, capaz de valorizar todo o tipo de vinhos, as suas origens e identidade.
O que acha do serviço de vinho nos restaurantes?
Está a um nível muito bom, embora exista ainda muito para fazer e por onde explorar, como a criação de dinâmicas de venda, maior ligação ao produtor, politicas de preço.
O que pensa do serviço de vinho a copo?
Continua a não despontar como se esperaria. A rotação rápida seria a chave do sucesso. Mas penso que é uma boa opção para gamas médias, trabalhadas como o vinho da semana ou da quinzena, uma selecção curta mas bem comunicada ao consumidor.
O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
Fundamental, desde que a ligação de quem faz o prato vá ao encontro de quem desenhou o vinho. Por vezes as harmonizações falham por ai. Mas é importante e fulcral para se obter uma real experiencia gastronómica!
Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
Considero-me um verdadeiro fã do Chef Vitor Matos e por duas vezes fui surpreendido: um menu de degustação acompanhada só com vinho Verde, na Casa da Calçada e mais recentemente no Antiqvm. Acho que com a sua humildade e irrepreensível interpretação da essência da matéria prima, os pratos saem apaixonantes!
Qual foi o vinho que provou que mais o sensibilizou?
Gaja – Sori San Lorenzo 1999. Impressionante e inesquecível! Vou procurar fazer vinhos assim, com tudo, identidade, caracter, longevidade, verdadeiramente impactantes!
Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado nacional no que concerne à produção, distribuição e consumo?
Estamos perante um momento / fase muito competitiva, e o mundo do vinho atrae os melhores profissionais da gestão, vendas e marketing. O mercado do vinho é um mercado vivo, competitivo e dinâmico. Esses três pontos são fulcrais na cadeia, um bom produto é o começo de um grande negócio, mas sem cuidada distribuição de pouco ou nada interessa a qualidade. O sucesso das empresas está nesse triângulo.
O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Mercado em franco crescimento, mas com muito trabalho pela frente. Portugal está perto de entrar na elite mundial de vinhos (não inserindo aqui o Vinho do Porto), o consumidor começa a ter muitas referencias do nosso país, mas necessitamos de ter mais holofotes sobre nós. Somos um país pequeno, com diversas regiões vitivinícolas, algo confuso até e ainda não passamos uma imagem segura do que é o nosso vinho, devemos procurar ser os melhores na qualidade, e não cair no erro de ser os melhores no preço
Qual a história que mais o marcou desde que trabalha nesta área?
A melhor história, é a junção de todas. O vinho, deu-me a feliz oportunidade de por este país fora, conhecer tantas e boas pessoas, em que rapidamente ultrapassamos a relação de negócio para verdadeiras razões de amizade! Tenho duvidas que outro sector consiga tal feito!
Por Mário Rodrigues
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