Natural de Alpiarça, enóloga da Quinta Vale D. Maria, que considera ser um dos seus maiores desafios profissionais, procurando ano após ano manter os padrões de qualidade e exigência pretendidos para todos os vinhos deste produtor
Joana Pinhão despertou para o mundo do vinho no seio da sua família, com uma grande ligação à vinha e ao vinho. Os seus avós maternos tinham uma propriedade em Alpiarça onde tinham vinha e sempre a habituaram a participar nas vindimas. Quando foi a hora de escolher o curso universitário a escolha natural foi Agronomia em Lisboa. No terceiro ano de universidade o grupo de amigos já girava muito em torno do mundo vínico e quando foi necessário escolher a especialidade a escolha recaiu na viticultura e enologia.
Qual o seu percurso profissional?
Entrei para o Instituto Superior de Agronomia no ano 2000 e fiz estágio de vindima na Casa Cadaval em 2006. Em 2007 depois de terminado o curso participei como estagiária na vindima na Quinta Vale D. Maria e ainda cá estou. Vão fazer 12 anos desde a primeira vindima na Quinta Vale D. Maria e parece que tudo começou ontem. É um projecto que sempre cuidei como se fosse meu e que passado todos estes anos me dá uma alegria enorme ainda ser responsável pela sua viticultura e enologia. Pelo meio, em 2012, fiz vindima na África do Sul, Rijks Private Cellar em Tulbagh Valley.
Como enóloga quais foram os seus maiores desafios?
O projecto da Quinta Vale D. Maria é um dos projectos portugueses com maior reconhecimento nacional e internacional e como tal o meu maior desafio tem sido procurar ano após ano manter os padrões de qualidade e exigência pretendidos para todos os nossos vinhos.
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
Desde que comecei a trabalhar até aos dias de hoje a característica do mercado que sinto que mais se alterou foram os perfis de consumidores. Hoje existem consumidores muito mais informados, conhecedores, o que contribui largamente para um aumento do nosso desafio enquanto enólogos na produção de vinhos em Portugal.
O que acha do serviço de vinho nos restaurantes?
Na última década tem-se visto uma alteração profunda no serviço de vinhos na restauração em Portugal nomeadamente a existência de pessoal qualificado para melhor aconselhar e servir o cliente. Há cada vez um maior cuidado de proporcionar uma verdadeira experiência gastronómica ao cliente.
O que pensa do serviço de vinho a copo?
Penso que é um serviço muito importante. Portugal está a dar os primeiros passos no serviço de vinho a copo e cada vez mais os restaurantes estão a aderir a esta versão do consumo. A possibilidade do cliente poder provar vários vinhos sem ter de comprar uma garrafa é fabuloso.
O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
Acho muito interessante os conselhos de harmonização porque dessa forma o restaurante consegue proporcionar ao seu cliente uma experiência que potenciará quer o vinho quer a comida.
Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
Tribute to Claudia no restaurante Vila Joya. Os Douro Boys foram os produtores convidados e tivemos 2 vinhos da Quinta Vale D. Maria nas harmonizações. Foi uma experiência incrível. Um bailado entre a cozinha e a sala.
Qual foi o vinho que provou que mais o sensibilizou?
Numa viagem a São Paulo para uma prova vertical do vinho Quinta Vale D. Maria para a revista Adega tive a sorte de provar toda linha do DRC. É realmente impressionante a qualidade destes pinot noir. A roçar a perfeição. A expressão perfeita do terroir.
Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado nacional no que concerne à produção, distribuição e consumo?
Hoje o mercado esta muito mais competitivo, surgiram muito mais distribuidoras. Cada vez existem mais marcas de vinho e os consumidores cada vez mais interessados. O mercado é muito mais dinâmico, obrigando todo o sector dos vinhos a responder com mais profissionalismo.
O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Nunca se exportou tanto como hoje. Cada vez mais Portugal é um país conhecido nos mercados externos, um trabalho que se deve ao excelente profissionalismo que as diferentes organizações e produtores de vinho têm apresentado nas abordagens ao mercado externo.
Qual a história que mais o marcou desde que trabalha nesta área?
Uma história muito próxima. Infelizmente em setembro faleceu uma grande amiga minha, sommelier holandesa, Lotte Wolf. Conheci-a em 2008 na Quinta Vale D. Maria, foi nossa estagiária e tivemos uma empatia imediata. Paixão enorme pelos vinhos e uma sommelier com um talento fabuloso. Eu dizia que era a melhor sommelier do mundo e não estava muito longe disso. Desde há alguns anos que fazia os seus vinhos, à sua maneira (vinhos naturais, com o mínimo de intervenção) na África do Sul, na Swartland, na adega do J. Meyers. Estava tão orgulhosa dos seus vinhos e nós do seu talento. Este ano, sem ela, a sua família e um grupo de amigos, enólogos e sommeliers voaram até à Africa do Sul para continuar a fazer os seus vinhos (a touch of dutch e die bastaard são o nome de alguns dos seus vinhos) e foi criada uma fundação, The WineWolf Foundation, estando a ser feito neste momento um documentário sobre as suas aventuras na Swartland. “Keeping her spirit alive”.
por Mário Rodrigues
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