Eugénio Jardim, “sommelier”, “brand ambassador”, educador, e um grande comunicador, natural do Brasil, é um profundo conhecedor do mercado norte americano onde reside. Despertou para o mundo do vinho logo depois de ter terminado os estudos na Universidade de Comunicações, tendo de seguida trabalhado para um grupo de Restaurantes no Brasil.
“Depois de longas horas de trabalho lembro-me bem de reunir com os meus colegas degustando uma garrafa de vinho Riesling Alemão. A frescura daqueles vinhos conquistou-me.
Alguns anos mais tarde, a trabalhar no Texas, percebi que os melhores clientes apreciavam sempre vinhos a acompanhar os seus jantares. Decidi que gostaria de aprender mais sobre vinhos e mudei-me para a Califórnia, de modo a estar próximo da melhor região de viticultura dos EUA.”
Qual foi o seu percurso profissional?
“Quando cheguei à Califórnia procurei imediatamente trabalhar nos restaurantes mais conhecidos dado terem um bom programa de vinhos. Num desses restaurantes, o “Vertigo”, no icónico prédio da “Transamerica Pyramide”, conheci uma retalhista de vinhos que me convidou a trabalhar com ela. Juntos, seis meses mais tarde, em 1994, abrimos o bar de vinhos, que foi a referência de São Francisco, senão dos Estados Unidos, EOS.
Com a saída dela em 1996 fui promovido a Gerente e Diretor de Vinhos. Com essa promoção comecei a participar nos concursos de vinhos, a viajar pelo mundo visitando regiões vitivinícolas, a dar aulas na Universidade de Berkeley e a ser convidado a dar palestras e conduzir degustações. Ao mesmo tempo começaram a proporcionar-se artigos em revistas e jornais e tornei-me muito conhecido na área.
Em 2001 fui convidado pela conceituada e premiada chef Traci Des Jardins para assumir a responsabilidade de vinhos do seu conceituado restaurante Jardiniere. Neste restaurante com minha equipa recebi 4 estrelas pelo jornal “San Francisco Chronicle” e o titulo de 2010 “Sommelier do Ano” da conceituada revista gastronómica “Sunset Magazine”.
Como surgiu o convite para embaixador da ViniPortugal nos EUA?
“Há vários anos que os vinhos Portugueses me vinham surpreendendo bastante. Em visita a Portugal pela primeira vez, consolidei a minha paixão pelos seus vinhos, pela sua gente e pela beleza natural do país. Daí em diante comecei a dar entrevistas sobre os vinhos Portugueses e, em algumas outras ocasiões, a dar palestras, organizar degustações e jantares harmonizados com os Vinhos de Portugal. Apareceram convites para que representasse a marca “Vinhos de Portugal” em eventos de âmbito nacional, como o Festival gastronómico de Aspen e Pebble Beach, entre outros.
Penso que despertou a atenção da direção que me propôs ocupar essa posição.”
Qual o maior desafio como embaixador da ViniPortugal e dos vinhos Portugueses nos EUA?
“O maior desafio na minha opinião continua a ser quebrar os preconceitos e ideais pré-estabelecidas sobre os vinhos e as castas Portuguesas. Creio que existe uma grande aceitação por parte dos consumidores, no entanto precisamos que os importadores e distribuidores apostem mais na qualidade. As nossas atividades no mercado são sempre recebidas com grande entusiasmo, mas o retorno em espaço de prateleira e em cartas de vinhos tem sido sempre um pouco mais lento. Estamos comprometidos a continuar a trabalhar para vencer essas barreiras e demonstrar o incrível potencial dos vinhos Portugueses.”
O que pensa do serviço de vinhos nos restaurantes nos EUA?
“Nos restaurantes de médio e alto nível creio que o serviço de vinhos é um dos melhores do mundo! Os “Sommeliers” são responsáveis pelos programas de vinhos, compras e vendas. Trabalham em colaboração com os chefes nas harmonizações, são conhecedores de vinhos do mundo todo e são estudiosos da gastronomia e da vitivinicultura.”
Qual foi o vinho português até agora que mais o surpreendeu?
“Não existiu um vinho em particular, mas vários vinhos. Apresento alguns exemplos.
Fui surpreendido pela longevidade de um Buçaco Branco da década de 50 e de vinhos tintos de Colares da década de 30; pela elegância e complexidade do Arinto de Bucelas e do Encruzado do Dão; por quanto se assemelham os belos vinhos da casta Baga, quando envelhecidos, aos melhores da Borgonha; pelo facto do Douro produzir não só excelentes tintos mas também grandes vinhos brancos, etc, etc.
Portugal tem a capacidade de produzir vinhos de grande qualidade em todas as regiões do País, e isto é o que mais me surpreende e impressiona!”
Qual a experiência que teve em restaurante em Portugal que melhor o impressionou?
“Foram tantas experiências maravilhosas que fica difícil mencionar umas sem falhar outras. No Alentejo tive oportunidade de provar a culinária do restaurante Fialho, em Évora, e em contraste, a cozinha muito moderna da Herdade do Esporão – as duas experiencias foram fantásticas! Em Lisboa é difícil não mencionar o restaurante Belcanto por todas as razões conhecidas, mas também seria um pecado esquecer o Solar dos Presuntos, por me fazer sentir em casa quando estou em Portugal. As marisqueiras de Matosinhos e os grandes restaurantes do Douro fazem-me sentir saudades do Norte de Portugal. Mas o que mais me impressiona é ser recebido numa casa portuguesa e desfrutar da hospitalidade e da culinária caseira, da harmonização perfeita da gastronomia com os vinhos portugueses, onde quer que sejam servidos.”
O que acha da penetração dos vinhos Portugueses no mercado norte americano?
“Acho que temos feito um excelente progresso. Há poucos anos o consumidor americano não sabia que Portugal produzia vinhos além dos vinhos do Porto e da Madeira. Hoje em dia já é um tópico conhecido nos círculos gastronómicos, nos media e também junto dos consumidores em geral. O facto de Portugal ser hoje em dia um destino turístico de tremenda importância elevou também o conhecimento da sua gastronomia e dos seus vinhos.”
Qual a avaliação que faz, em termos gerais, do mercado de vinhos nos EUA?
“Os Estados Unidos são um mercado muito polarizado e concentrado nas grandes áreas urbanas. Infelizmente o centro dos EUA ainda não despertou para a apreciação dos vinhos, assim como a costa oeste e partes da costa Leste do país.
Por isso não se pode ter somente um plano, são necessários vários planos, pois os EUA não são somente um mercado, mas 50 mercados diferentes. Acho importante ter-se esse conhecimento para estar sempre sensibilizado para as diferenças regionais e culturais de cada estado do país. O que é óbvio num estado pode não ser noutro. Por isso mantenho a minha agenda ocupada e cheia de viagens para propagar a mensagem dos vinhos portugueses por todo o país.”
entrevista de Mário Rodrigues
edição Rita Lisboa
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