Durante o Mestrado em Viticultura e Enologia conheci o João, meu marido, que é um dos grandes responsáveis por esta minha caminhada, ou nossa, aliás, no mundo dos vinhos
Beatriz Braga Cabral Almeida é natural do Porto. Apesar de ter crescido em contacto com o vinho, tem memórias felizes dos dias de vindima em casa dos avós maternos. Só em 2005, altura em que viveu em Lisboa e trabalhou em microbiologia de vinhos, é que realmente percebeu que para ser feliz a sua vida teria que passar por este mundo. E assim é!
Qual o seu percurso profissional?
Formei-me em Microbiologia na Universidade Católica do Porto e em 2003, logo após a licenciatura, rumei a Lisboa para trabalhar no laboratório de microbiologia de vinhos do Instituto Superior de Agronomia. Foi sem dúvida durante esta fase que a paixão pelo mundo dos vinhos se revelou, levando-me logo a fazer três estágios de vindima e depois iniciar o Mestrado em Viticultura e Enologia.
Nesta altura conheci o João, meu marido, que é um dos grandes responsáveis por esta minha caminhada, ou nossa, aliás, no mundo dos vinhos. Em 2007 entrei na Sogrape Vinhos, diretamente para a vindima da Herdade do Peso, no Alentejo, e em 2010 tive a oportunidade e o privilégio de fazer uma vindima na Framingham, propriedade da empresa na Nova Zelândia. Mais tarde, em 2012, rumei ao Dão para acompanhar o enólogo Manuel Vieira na Quinta dos Carvalhais, projeto que entretanto conduzo orgulhosamente.
Quais foram os seus maiores desafios?
Desde que comecei a trabalhar com o Manuel Vieira no Dão que se impôs a necessidade de afirmação da região, tendo-me ele próprio incumbido do grande desafio de pôr o Dão na moda!
É por isso que luto todos os dias: por conhecer cada vez melhor esta região fantástica e compreender em plenitude um terroir tão rico como o da Quinta dos Carvalhais, por criar sempre mais e melhor, mas acima de tudo, por fazer e levar à mesa uma região de enorme riqueza como é o Dão.
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos em Portugal?
Creio que o facto de o consumidor exigir cada vez mais qualidade nos produtos que consome é muito importante. E o vinho não é exceção! Deparamo-nos com pessoas mais experientes e mais ávidas de conhecimento acerca das regiões vitivinícolas, das técnicas enológicas e dos métodos de prova para melhor partido poderem tirar dos vinhos. Tudo isto é um incentivo ao setor vitivinícola, para colocar no mercado vinhos com excelente qualidade e adaptados à diversidade de gosto do consumidor.
O que pensa do serviço de vinhos nos restaurantes?
Do mesmo modo que gostamos de apreciar um bom bife nas melhores condições possíveis, queremos ter a melhor experiência possível com os vinhos. Gostamos que os sirvam corretamente, em copos adequados e à temperatura certa. Este cenário será obviamente engrandecido se conseguirmos que nos sugiram um prato que combine na perfeição com o vinho.
É com satisfação que verifico, enquanto enóloga e consumidora, que são cada vez mais os restaurantes a responder a estas exigências, mas tenho noção de que ainda há um grande caminho a percorrer!
Qual foi o melhor vinho que teve oportunidade de provar?
O vinho é feito para dar prazer a cada pessoa que o está a beber, por isso é tão importante haver vinhos diferentes. As pessoas não são todas iguais, nem os momentos de consumo pedem todos o mesmo vinho. Assim, posso dizer que já bebi muitos bons vinhos, que se enquadravam perfeitamente com a ocasião e com as pessoas com quem os partilhei. Sem nomear um em particular, não posso passar sem fazer uma referência aos brancos da Borgonha, que são vinhos pelos quais nutro uma grande admiração!
Qual a experiência em restaurante que melhor a impressionou?
O jantar da “Rota das Estrelas” em 2013, no restaurante Largo do Paço, na Casa da Calçada, em Amarante. O Chefe Vitor Matos, juntamente com 12 chefes de restaurantes com Estrela Michelin, conseguiram proporcionar uma autêntica paragem no tempo. A experiência permitiu-nos apreciar o casamento dos pratos por eles confecionados, com os vinhos previamente selecionados. Num ambiente simultaneamente contemporâneo e tradicional, em que o serviço de sala e de vinhos é irrepreensível, tudo passa para segundo plano e os sentidos ficam mais apurados para desfrutar o que de melhor nos pode oferecer a gastronomia.
Qual a história pela positiva ou negativa que mais o marcou desde que trabalha nesta área?
Como tenho a felicidade de fazer aquilo de que gosto, todos os dias assisto a pormenores que marcam de forma muito positiva a minha vida.
O que acha da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
O mercado mundial de vinhos está em constante crescimento e mutação. O consumidor é continuamente bombardeado com novas marcas, tanto portuguesas como estrangeiras, o que exige um trabalho de promoção dos vinhos muito próximo do consumidor. Considero que tem vindo a ser feito um bom trabalho na divulgação e promoção dos vinhos portugueses no mundo – que apresentam cada vez maior qualidade – mas há ainda bastante caminho a percorrer no sentido de aumentar a sua notoriedade.
Relativamente à região do Dão em particular, acredito que estamos no rumo certo para devolver ao Dão o prestígio que merece, enquanto região que faz nascer vinhos extremamente elegantes, equilibrados e gastronómicos, que nos esforçamos por fazer chegar a um número cada vez maior de consumidores.
por Mário Rodrigues
Redes Sociais