Hoje o verdadeiro desafio é a produção de grandes vinhos, compreendendo e interpretando o Terroir
António Braga, natural de Lisboa, em sua casa o Vinho sempre foi uma presença constante à mesa. No seu caso, a opção pela enologia surgiu enquanto estudava no Instituto Superior de Agronomia, e um dos caminhos possíveis no horizonte era precisamente o vinho. Foi uma decisão tomada com a cabeça e com o coração, e acredita que uma das melhores da sua vida!
Qual o seu percurso profissional?
Ainda durante a licenciatura tive uma ideia muito clara que queria trabalhar no Douro, e assim aproveitar todo o potencial desta região fantástica. Pouco depois surge a oportunidade de trabalhar na CARM, uma adega em Almendra que me proporcionou três bons anos de experiência e de absorção de conhecimentos práticos. O passo seguinte foi em 2007, com a minha entrada para a Sogrape vinhos para integrar a equipa de Luís Sottomayor, onde assumo o papel de enólogo responsável pela Quinta da Leda. Pelo meio tive a sorte de ter tido óptimas experiências de vindima internacionais na Nova Zelândia (Framingham) e Argentina, (Finca Flichman) e hoje é com muito orgulho que dou a cara por Confradeiro!
Quais foram os seus maiores desafios?
O Douro é desafiante! Basta olharmos para a sua geografia e o seu clima, e logo se percebe que estamos perante uma região de grandes desafios e de maior carácter. Hoje o verdadeiro desafio é a produção de grandes vinhos, compreendendo e interpretando o Terroir. Felizmente assistimos a um aumento da qualidade e do reconhecimento dos vinhos do Douro, o que nos obriga a querer ir sempre mais longe na busca da perfeição!
O que pensa do serviço de vinhos nos restaurantes?
Penso que o consumo de vinho em geral mudou muito nos últimos 20 anos. Hoje bebe-se menos e mais caro. Assistimos também a um interesse cada vez maior pelos vinhos e pela cultura gastronómica, o que só ajuda o sector. Acho que a restauração tem acompanhado esta tendência, tendo hoje um serviço de vinhos de maior qualidade (tipo de copos, temperatura de serviço, conhecimento dos Sommeliers), mas há ainda um caminho a percorrer, sobretudo se olharmos para os restaurantes do “dia-a-dia”. Na maioria desses casos falta ainda formação e, por vezes, exigência do consumidor. O consumidor deve ser mais exigente e atento, pois ao consumir vinho num restaurante está também a pagar um serviço.
Qual foi o melhor vinho que teve oportunidade de provar?
É uma pergunta muito difícil de responder, em primeiro lugar porque felizmente tenho a oportunidade de provar, trabalhar e beber muitos bons vinhos, mas também por acreditar que não há um “melhor vinho” em absoluto, mas sim vinhos que se enquadram perfeitamente em diversos momentos. E seguindo este raciocínio, o céu é o limite!
Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
Penso que qualquer enólogo é um apaixonado pela boa mesa e pelos bons momentos aí passados, e eu não fujo à regra! Nas minhas recordações estão sem dúvida as noites de inverno, à Lareira, no Restaurante Lagar, em pleno Douro Superior. Uma torrada com azeite e um tinto do Douro tornam esses momentos tão inesquecíveis como confortáveis! Noutro registo completamente diferente, cogumelos Porcini, apenas grelhados, e um Chianti Clássico numa viagem recente que fiz a Milão.
O que acha da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Como enólogo que sou, digo que os vinhos Portugueses têm qualidade e carácter para se imporem no difícil mercado global de vinhos. Somos um País do Velho Mundo, ou seja com tradição na produção de vinhos, tal como a França, Espanha ou Itália, mas temos a flexibilidade e irreverência dos Países do Novo Mundo, aqueles em que a produção de vinho é mais recente (Nova Zelândia, Austrália, Africa do Sul…). Além disso temos um património único de castas inseridas em regiões tão diferentes como o Alentejo ou os Vinhos Verdes, portanto uma variabilidade climática grande. Tudo isto somado resulta no tal carácter diferenciador que eu reconheço nos nossos vinhos. Agora há que tirar partido disto, há que conhecer os mercados e tentar ir de encontro aos seus desejos e expectativas, fazer com que o consumidor se atreva a abrir uma garrafa de vinho Português e conquistá-lo de modo a que ele abra a segunda, esse é o caminho!
por Mário Rodrigues
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