O peso de um dicionário……
por Mário Rodrigues
Sandra Gonçalves, natural de Lisboa, fez um estágio curricular na Quinta do Vallado no Douro, teve o 1º emprego na emblemática Quinta do Vale de D. Maria do produtor Cristiano Van Zeller sob a direcção da enóloga Sandra Tavares da Silva. Considera-se uma mulher de sorte pelas excelentes pessoas e profissionais com quem sempre trabalhou que lhe propiciaram um fulgurante início de carreira.
Já no Alentejo na mítica casa do Alentejo Herdade Cortes de Cima, teve a oportunidade de trabalhar com o produtor Hans Jorgensen um visionário do mundo dos vinhos. A oportunidade de iniciar um novo projecto em Estremoz numa Quinta do Séc. XVIII, onde começa a produzir os vinhos Dona Maria do produtor Júlio Bastos (www.donamaria.pt), desde o inicio do ano de 2003 em que foi feita a 1ª vindima, ainda marca os dias presentes. Em 2010 este produtor foi considerado o melhor produtor do ano 2009 pela revista de vinhos.
Como e quando despertou para o mundo do vinho?
Ingressei na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e escolhi a licenciatura de Enologia, depois de ter ido ver ao dicionário a definição de Enologia “Enologia é a ciência que estuda todos os aspectos relativos ao vinho desde o plantio, escolha do solo, vindima, produção, envelhecimento, engarrafamento e venda “. Adorei na altura a definição e como já era apreciadora de vinho achei que só podia ser aquela a minha escolha. Durante o curso fiz a minha 1ª vindima em Bucelas na Quinta da Romeira. Um estágio de vindima é um teste muito grande à nossa resistência física, emocional e capacidade de trabalho. Trabalha-se muitas vezes 15horas ou mais por dia e sujamo-nos muito. Quando terminei a vindima disse para mim mesma ” Não sei se vou ser uma boa Enóloga, mas tenho a certeza que é a profissão ideal para mim.”
Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade?
Tem sido os vinhos Dona Maria. Temos crescido os dois juntos a marca e eu. Todos os dias aprofundo o meu conhecimento e experiência técnica, sempre baseado no objectivo de fazer vinhos com pontuações de toda a gama de preços do Dona Maria, de 17 valores para cima e que consigam agradar a 95% dos consumidores Nacionais e Internacionais que os provam.
Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
Há algumas absurdas mas eu prefiro contar uma interessante (pelo menos para mim). Quando fui fazer um eco cardiograma fetal para fazer um despiste, estava muito nervosa e mil ideias de preocupação atravessavam a minha cabeça. O médico cardiologista perguntou qual a minha profissão e ao saber onde trabalhava disse-me que tinha enviado um e-mail há 3 meses atrás a dar os parabéns porque tinha provado o vinho branco Dona Maria e que este lhe tinha proporcionado um momento fantástico. Eu achei que tinha sido uma coincidência feliz o que me fez relaxar.
Qual o melhor vinho que já teve oportunidade de provar e de que país?
Entre vários e muito bons elejo um vinho da Madeira do ano de 1850 da Real Companhia velha da Madeira. Não há palavras para descrever a complexidade e o quanto jovem estava aquele vinho.
Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
Tenho de mencionar 2 restaurantes por dois diferentes motivos. O restaurante Foz Velha no Porto, um restaurante clássico em que estava com um casal de amigos, a comida o vinho e o serviço estavam muito bons, a luz da Foz que entrava no restaurante particularmente bonita, este conjunto de factores proporcionou que a conversa tivesse sido fluida sobre diversos assuntos ( especialmente sobre vinhos éramos todos ligados a este mundo fantástico que é o do vinho).
O outro restaurante foi o restaurante Fortaleza do Guincho em Cascais, com uma estrela Michelin em que fui a um jantar feito pelo chefe Vincent Farges, organizado pelo Cacau Clube de Cascais em que o vinho escolhido, por ser um dos únicos que tinham encontrado que reunia as características que conseguia combinar com todos os pratos feitos com cacau, foi o vinho Dona Maria AMANTIS tinto 2004. E foi impressionante o casamento do vinho com a comida e o facto de pensar que desde a entrada ao prato de peixe seguido do prato de carne nunca ter enjoado o cacau. Um trabalho muito bem feito por parte do chefe.