Começar com os vinhos do Douro na década de 90 foi grande desafio

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David Baverstock tem dupla nacionalidade Australiano e Português. Após os estudos (1978 ), viajou para a Europa e fez vindimas na Alemanha e França. Voltou à Austrália onde trabalhou em Barossa Valley para a firma Saltram como enólogo durante 2 anos. Veio para Portugal em 1982 tendo trabalhado como enólogo nas Caves Aliança, C Vinhas, Croft, Grupo Symington, tendo finalmente mudado para o Esporão em 1992, no Alentejo. Entretanto como enólogo consultor começou o projecto Quinta de La Rosa em 1990, Quinta do Crasto em 1994, Fojo em 1996, Adega de Cantor (1998 ate hoje) no Algarve, e Azamor em 2004.

Como e quando despertou para o mundo do vinho?
Cresci na Barossa Valley, uma região famosa Australiana para vinhos, mas foi só quando fui para Roseworthy Agricultural College começar a estudar enologia e trabalhar em vindimas que fiquei mesmo convencido que era o caminho certo para mim.

Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade nesta área?
Vários, como por exemplo começar com os vinhos do Douro em princípios da década de 90. Mas o Esporão foi sempre o maior desafio, porque quando eu entrei em 1992, a casa tinha grandes ambições, mas estava em dificuldades, tanto ao nível de qualidade dos vinhos como em termos de vendas, e foi necessário fazer uma volta muito grande em tudo, desde a vinha, adega e area comercial.

O que acha deveria ser alterado na postura de alguns dos restaurantes e hotéis relativamente ao serviço de vinhos?
Os vinhos deviam ter preços mais razoáveis e deviam ser servidos com mais “savoir faire” ou seja com mais conhecimentos ao nível dos sommeliers. Também gosto muito de conceito de BYO (bring your own) que podia ser útil, uma vez que tudo está mais caro e as pessoas não vão almoçar/ jantar fora com tanta frequência.

Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
Como sabe, o Esporão tem a tradição de convidar um artista que pinta vários quadros e nós escolhemos os mais indicados para meter no rotulo para o reserva daquele ano. Em 1999, foi o Pedro Proença que foi convidado e fez vários quadros inspirados com o influencia árabe que existe na Herdade, na sua historia e arquitectura. Uma das pinturas foi de Ali Baba que escolhemos e metemos no reserva 1999 e foi exportado para os USA na altura de 9/11, os atentados às Torres Gémeas em NY. O rotulo foi considerado ofensivo porque fazia lembrar de Bin laden e o vinho foi rejeitado e devolvido a Portugal! Tivemos de fazer rótulos novos e pedir desculpas, pois o mercado dos USA era importante demais para nos. Acho esta historia interessante e absurda!

Qual o vinho que teve oportunidade de provar que mais o surpreendeu e de que país?
Uma borgonha, 78 Musigny, bebida em França pouco tempo depois de eu ter chegado da Austrália onde havia poucos Pinots naquele altura e eu não tinha grande apreciação por esta casta, ate ter provado este vinho – sedoso puro! (pure silk!)

Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
Le Cep, Fleurie, Beaujolais, França – estava com um grande amigo e enólogo daquele região, Marcel Lapierre, que infelizmente morreu o ano passado. Tinha chegado há pouco tempo da Austrália, estava tudo muito diferente, a cultura de vinho e a gastronomia em França foi para mim qualquer coisa de novo e fantástico. Bebemos vinhos incríveis, a comida foi ótima e o prato de queijos……..

por Mário Rodrigues