Episódios embaraçosos
por Luís Mourão
A história que vou contar é uma entre muitas que surgiram ao longo destes vinte e dois anos de profissão. Uma delas passou-se durante um programa de televisão que decorreu em Santarém, onde ia fazer umas pêras cozidas em vinho Moscatel de Setúbal. Os nervos eram tantos que só tinha vontade de me esconder. Fiz algumas tentativas para ficar mais calmo, mas quando chegou a minha vez estraguei tudo. Por alguma razão, sempre que começava a explicar o que estava a fazer e que ingrediente estava a utilizar, esquecia-me sempre do vinho Moscatel, o néctar base da minha receita. Todas as pessoas que estavam presentes fartaram-se de rir por estar tão nervoso, foi muito embaraçoso.
Estive algum tempo no Brasil, no Hotel Sheraton em São Paulo, e estávamos a fazer uma mostra de gastronomia portuguesa. Num dos dias pediram-me para fazer arroz doce. Quando disse que sim, nem desconfiava qual viria ser o desfecho do filme… O arroz estava ainda a ferver e eu, com a pressa de o acabar, juntei as gemas dos ovos. O resultado foi um arroz doce com ovos mexidos. Quando o chefe de pastelaria me perguntou o que tinha acontecido, respondi que o leite não estava bom… ele limitou-se a exclamar: que chatice!
A nossa vida é uma aprendizagem constante e é isso que nos faz evoluir como pessoas e profissionais. À parte de todas as peripécias que já me aconteceram ao longo do tempo, as experiências que tenho no Convento do Espinheiro são únicas e dão-me muito prazer. Gosto de estar com os clientes na minha horta, de os ver colher as ervas aromáticas, sentir o seu cheiro, e a partir daí elaborarmos pratos com os mais diversos sabores. Gosto de ensinar as crianças a fazer pão, a plantar árvores com o seu nome, para quando voltarem ao hotel possam visitar a sua árvore já crescida. São estes momentos que nos tocam para a vida toda.