A Real Companhia Velha acaba de juntar duas referências e cinco novas colheitas à sua linha experimental de vinhos Séries, um branco de Cercial e um tinto de Baga, duas castas que ganharam notoriedade na região da Bairrada.
A renovar colheitas, o Donzelinho Branco, na colheita de 2021, e, nos tintos, Rufete e Bastardo de 2018; Malvasia Preta e Tinto Cão de 2019.
Pensada na vinha há duas décadas e com os primeiros vinhos a chegarem ao mercado em 2012, a linha Real Companhia Velha Séries representa, por um lado, a paixão e a sede de inovação e experimentação desta empresa bicentenária e, por outro, põe em evidência os ensaios desenvolvidos pela equipa técnica – de viticultura e enologia –, que se desafiam na procura de novos perfis de vinhos e exploraram diferentes técnicas, castas e abordagens.
A aposta na Cercial foi mais um desafio para a equipa de viticultura e enologia, que ao longo dos anos tem apostado na experimentação de castas de outras regiões com o propósito de compreender ainda melhor o terroir das quintas da Companhia. Uma casta que impressiona pelo seu porte robusto e folha verde-escura de textura espessa. A nível enológico mostra-nos subtileza, num perfil fresco e com boa acidez. O Real Companhia Velha Séries Cercial branco 2021 estagiou em barricas de carvalho francês – 50% novas e 50% usadas –, com bâttonage, por um período de 6 meses. O resultado é um branco de cor citrina e um nariz delicado e complexo, com notas de pétalas brancas, ameixa verde e citrinos, aliadas a nuances vegetais, que lhe conferem frescura, e sugestões de tosta fina, proveniente do seu estágio em barrica. Na boca, é intenso e envolvente, com sabores que se adivinham no nariz. Apresenta uma textura gorda e suave, com uma acidez vivíssima, que lhe proporciona um final de prova longo e refrescante. Um branco que harmoniza bem com peixes e marisco da nossa costa, como rodovalho, robalo ou camarões ao alho, mas também queijos de pasta mole. Como sugestão vegetariana, eleito para pratos com batata-doce, nabo ou beterraba.
Baga é uma das mais nobres e afamadas castas nacionais, estando umbilicalmente associada aos grandes tintos e espumantes da Bairrada. Embora pouco ou nada associada à região duriense, a Baga está muito presente nas vinhas velhas do Douro, reconhecida pelos locais como Tinta da Bairrada ou Poeirinho. O seu vigor e rusticidade fizeram com que fizesse parte do leque de castas favoritas dos antigos lavradores durienses, surgindo mais recentemente a sua aptidão para voltar ao integrar os lotes de Douro DOC. Não em lote, mas a solo, para a criação do Real Companhia Velha Séries Baga tinto 2020 metade dos cachos foram desengaçados, com as uvas a serem levemente esmagadas antes de serem direcionadas para a cuba de fermentação, enquanto os restantes 50% foram direcionados para a mesma cuba com o cacho inteiro. Seguiu-se a fermentação alcoólica do mosto em cubas de inox, a 24-26.ºC, e um estágio em barricas de carvalho francês usadas, durante um ano. Um Baga de cor granada profunda mostrando a sua tipicidade aliada à região. No nariz, revela todo o seu caráter varietal, com notas de fruta madura, como alcaçuz e cereja, que combinam com o seu lado terroso e vegetal. Na boca, mostra-se medianamente encorpado e fresco, com um cariz vegetal muito atraente e sabores que se adivinham no nariz. O seu tanino contribui para a estrutura, sendo fresco e suculento. Termina longo e persistente, com uma acidez muito viva, como é típico desta nobre casta. Um tinto que pede pratos de caça, como veado ou javali; queijos fortes, como Serra da Estrela ou o amarelo da Beira Baixa. Como sugestão vegetariana, um ragu de cogumelos e pratos com base de tomate e lentilhas.
Do Cercial branco 2021 foram produzidas 2300 garrafas e do Baga tinto 2020 pouco mais do dobro, ou seja, 4776 unidades. O PVPR é de €25,00, igual em todos os vinhos da linha Real Companhia Velha Séries.
Desde 1996, ano em que foi criada a Fine Wine Division na Real Companhia Velha, tem vindo a ser feito um complexo trabalho de experimentação e inovação, numa missão conjunta entre a equipa de viticultura e de enologia. Em 2002, após algumas visitas a campos ampleográficos da região, a equipa técnica decidiu apostar na recuperação de mais de 30 castas autóctones, algumas perto da extinção. Nas castas brancas, na sua maioria plantadas na Quinta do Casal da Granja, em Alijó, são exemplo Alvarelhão Branco, Alvaraça, Branco Gouvães ou Touriga Branca, Esgana Cão, Donzelinho Branco, Moscatel Ottonel e Samarrinho. Nas castas tintas, tendo como terroir principal a Quinta das Carvalhas, junto ao Pinhão, destaque para Bastardo, Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Preto Martinho, Cornifesto, Rufete, Tinta da Barca, Tinta Francisca e Tinto Cão. A escolha das castas baseou-se na análise visual de alguns parâmetros morfológicos (vigor, porte, sensibilidade à secura) e produtivos (fertilidade, tamanho dos cachos, prova de bagos), sendo da responsabilidade da equipa da Real Companhia Velha a recolha das varas para enxertia.
O pressuposto deste projeto foi sempre o mesmo: plantar as castas em parcelas extremes com o mínimo de 1 hectare, com vista a estudar o comportamento agronómico e avaliar o potencial dos vinhos varietais anualmente vinificados. Nem sempre os resultados são aprazíveis, mas desde o primeiro vinho lançado – um Rufete de 2010 –, têm sido vinhos verdadeiramente surpreendentes e únicos. Pequenos projetos que refletem o conhecimento do terroir, aliado às características singulares destas variedades. Desde a génese foram já lançadas 15 referências, algumas das quais com mais de uma colheita, totalizando mais de 30 vinhos distintos.
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