Enólogo da Lavradores de Feitoria, mencionados na última edição da Wine Spectator como um dos ’30 Produtores a Descobrir no Mundo’, considera que esta menção revela a excelência do projeto, e vinhos!
Paulo Augusto Ruão Martins (Paulo Ruão), enólogo, natural de Paredes, Porto, despertou para o mundo do vinho desde pequeno… pois pertence a uma família de produtores de vinho. Desde cedo que se viu envolvido nas lides do vinho: participava nas vindimas a acompanhar as pesagens das uvas, bem como na pisa das uvas em lagares. Assim que teve conhecimento do curso de enologia na UTAD, ficou claro que seria enologia que iria seguir.
Qual o seu percurso profissional?
Licenciei-me em enologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD); fiz o meu estágio de fim curso na Ramos Pinto, onde fiquei a trabalhar cerca de 19 anos. Neste período fiz alguma formação em Bordéus. Em Junho de 2005 fui convidado a dirigir a equipa de enologia da Lavradores de Feitoria, onde me encontro a trabalhar neste momento, como Diretor Técnico.
Como enólogo quais foram os seus maiores desafios?
O primeiro grande desafio foi em 1989 ao integrar a equipa da Ramos Pinto, dando-se início à produção de DOC Douro. Já mais tarde, em 2005, foi o desafio de liderar a enologia nesta empresa, a Lavradores de Feitoria.
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
Para mim o mais relevante foi o aumento da qualidade dos vinhos. Acho que hoje em dia já não há vinhos maus, e a preços muito convidativos.
O que acha do serviço de vinho nos restaurantes?
Em alguns restaurantes é bem servido, em termos de temperatura e aconselhamento para o prato desejado, mas na maior parte dos restaurantes isto não acontece. Acho que ainda temos um longo caminho a percorrer nesta área, bem como, fazer bem as ligações do vinho com a comida.
O que pensa do serviço de vinho a copo?
Acho que foi uma aposta ganha. Penso que o serviço de vinho a copo é muito importante, principalmente para o consumidor, porque assim pode provar mais.
O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
Tal como mencionei atrás, este tipo de conselho é muito importante para que o cliente aproveite todo o potencial do restaurante. Acho que assim, ganha o prato e o vinho.
Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
Restaurante “Cozinha da Terra”, em Paredes, pelo ambiente proporcionado e pela qualidade da comida.
Qual foi o vinho que provou que mais o sensibilizou?
Foram vários, mas destaco o ‘Barca Velha tinto 1983’ (Ferreira); a elegância do ‘Duas Quintas Reserva tinto 1991’ (Ramos Pinto) e a complexidade do ‘Três Bagos Grande Escolha Estágio Prolongado tinto 2005’ (Lavradores de Feitoria). Isto falando em vinhos portugueses. Do estrangeiro não posso deixar de mencionar o ‘Romanée-Conti 1991’ (França), uma prova vertical de ‘Cheval Blanc’ (França) e recentemente um ‘Chateaux Petrus’ de 2010, este sim sensibilizou-me bastante!
Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado nacional no que concerne à produção, distribuição e consumo?
No que toca à produção, não deve haver excessos e há que se escolher bem os locais para a plantação da vinha, ligando o terroir à casta. Quanto à distribuição, acho que estamos no bom caminho. O consumo foi o que mais evoluiu; o consumidor está mais exigente, mais conhecedor e sabe o que quer, muito graças ao acesso à informação disponível, e também a qualidade dos vinhos.
O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Acho que está a começar; estamos finalmente a ter o reconhecimento devido. No caso da Lavradores de Feitoria, por exemplo, fomos mencionados na última edição da Wine Spectator como um dos ’30 Produtores a Descobrir no Mundo’, o que revela a excelência do nosso projeto, e vinhos! Costumo dizer que, tal como no calçado, vamos ter sucesso. Os vinhos portugueses estão na moda, muito pela sua constante qualidade.
Qual a história que mais o marcou desde que trabalha nesta área?
Para quem trabalha nesta área, que faz vindimas todos os anos, são sempre anos diferentes, com muitas histórias e situações que têm de se resolver quase empiricamente. Não dá para pensar muito porque temos apenas dois meses para cortar todos as uvas que existem numa região. Então, desde querer começar uma vindima, porque as uvas estão maduras e pode chover, e não ter cubas para as colocar porque o fornecedor dos depósitos não as entregou, ou noutra situação, ter as cubas, mas como chegaram atrasadas, não temos teto na adega, e prevê-se chuva para o outro dia e temos que resolver estas situações imediatamente, ou as histórias das avarias dos equipamentos durante a vindima… Acho que todos os enólogos se revêm nesta história que faz parte de quem trabalha nesta área, que nos marcam para a vida.
por Mário Rodrigues
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