Portugal fez um grande esforço na reestruturação da produção com grande enfoque na qualidade e inovação.
Nuno d´Orey Cancela de Abreu, enólogo, natural de Lisboa, despertou para o mundo do vinho nas vindimas que fazia na propriedade da família, em Mortágua, que ainda hoje são a base da produção de uvas para as Boas Quintas.
Qual o seu percurso profissional?
Depois da formação académica que passou pelo ISA em Lisboa e pela pós-graduação de viticultura e enologia em Montpellier, iniciei a minha carreira em 1981 no Douro á frente da ADVID, associação de produtores que tinha por missão estudar a viticultura duriense. Paralelamente fui docente no curso de enologia na Universidade de Trás-os-Montes. Em 1988 projetei e executei a construção da Quinta da Romeira em Bucelas do qual resultou a recuperação da casta Arinto. Passados 12 anos fui dirigir a reestruturação da Quinta da Alorna com a alteração do perfil dos vinhos, da imagem e da estratégia comercial. Em 2010 decidi dedicar-me, de corpo e alma, á minha empresa Boas Quintas, que tinha fundado em 1991.
Como enólogo quais foram os seus maiores desafios?
O maior desafio foi iniciar a laboração e comercialização dos vinhos Boas Quintas numa época em que o Dão estava desvalorizado relativamente a outras regiões que estavam moda. Foi muito difícil mostrar a qualidade e a diferenciação dos nossos vinhos como a maior valia para os apreciadores de vinho.
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
Vejo com satisfação que os vinhos brancos voltaram a ter um consumo importante e que os vinhos rosés deixaram de ter um estigma de vinhos de segunda e começam a ser considerados como um boa alternativa para o verão e como acompanhamento das comidas mediterrânicas e asiáticas.
O que acha do serviço de vinho nos restaurantes?
Tenho pena que por vezes os copos não sejam os mais adequados para valorizar os aspetos aromáticos e gustativos dos vinhos assim como as temperaturas a que são servidos, muitas das vezes desajustadas e que prejudicam a sua apreciação.
O que pensa do serviço de vinho a copo?
Acho que é uma verdadeira revolução com a qual estou inteiramente de acordo e apoio. É uma solução para quem não quer nem pode beber uma garrafa, para além de não impedir a condução após as refeições. Tenho tido muito boas experiencias que me permitem provar vinhos diferentes sem ter que gastar muito dinheiro.
O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
Este tipo de aconselhamento ainda está muito cingido aos restaurantes de nicho. Muito gostaria que houvesse mais formação nesta matéria e que se conseguisse alargar ao máximo possível dos restaurantes. Só com a harmonização dos vinhos é que poderemos incentivar o consumo moderado de vinho diferenciado e de qualidade, caso contrário continuamos a ter oferta de marcas mais conhecidas e massificadas que não satisfazem a curiosidade dos bons apreciadores.
Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
A minha última grande experiencia foi no restaurante Go Juu em Lisboa, junto á Gulbenkian. É sem dúvida um dos melhores restaurantes de comida japonesa e especialmente para quem aprecia a arte de fazer e degustar sushi. Foi uma experiencia marcante pelo cuidado, qualidade dos produtos, criatividade, execução e apresentação dos pratos que termina nos sabores únicos principescamente acompanhados pelo nosso Fonte do Ouro Encruzado com a sua mineralidade e elegância própria da casta.
Qual foi o vinho que provou que mais o sensibilizou?
Foi um vinho da madeira de 1890 de uma amiga cuja família é produtora. Este vinho mexeu com todos os meus sentidos e que me chegou a emocionar tal foi a grandeza, frescura e equilíbrio que expressou na prova.
Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado nacional no que concerne à produção, distribuição e consumo?
O setor no seu todo está muito mais profissionalizado. A produção tem uma estratégia bem definida e sabe o que tem que produzir e apresentar ao mercado. A distribuição também tem maior rigor na forma e nos produtos que escolha para distribuir. Finalmente o consumidor está muito mais informado sobre vinhos, sabe do que gosta e já não bebe “gato por lebre” sendo cada vez mais criterioso na escolha dos vinhos e cada vez mais sensível ao preço.
O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Portugal fez um grande esforço na reestruturação da produção com grande enfoque na qualidade e inovação. Estamos numa fase muito importante de afirmação na exportação. Paço a paço estamos a conseguir impor os nossos vinhos, através dos prémios conquistados, artigos em revistas conceituadas e sobre tudo com um grande esforço dos produtores na apresentação e contatos comerciais.
Qual a história que mais o marcou desde que trabalha nesta àrea?
A história que mais me marcou foi receber a notícia que tinha ganho, com o nosso vinho Fonte do Ouro Touriga Nacional, o Troféu de prestígio no concurso londrino International Wine Challenge e que foi uma grande recompensa para todo o trabalho que esteve por detrás deste vinho.
por Mário Rodrigues
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