O serviço de vinho a copo é algo que devemos privilegiar pois democratiza o acesso aos vinhos. Se não comemos o mesmo porque temos de beber o mesmo?
Carlos Alves, natural de Boticas, enólogo de vinhos do Porto do grupo Sogevinus, detentor das 4 principais marcas de vinho do Porto: Kopke, Burmester, Barros e Cálem.
Desde cedo que todo o processo do vinho despertou em si muita curiosidade, algo que mais tarde se veio a transformar em paixão.
Os seus pais sempre produziram vinho para consumo próprio, e as alturas de vindima e vinificação são das suas primeiras memórias de infância.
Lembra-se bem que toda a família estava lá em casa para ajudar e era uma autêntica festa! O vinho para si significava alegria e convívio! Faziam todo o processo de transformação: desde a vinha até ao lagar. Mais tarde faziam o engarrafamento e tudo isto despertava algo de fascinante em si.
Acho que foi na infância que percebi que a minha vida passaria pelo vinho!
Qual o seu percurso profissional?
Em 2003 fiz a minha primeira vindima no Douro, na Cálem. Foi mágico. Foi uma experiência fantástica pois estava com um grupo de grandes amigos comigo e era para todos nós a primeira vindima “a sério”! O Douro tem a aptidão de nos agarrar e não nos largar nunca mais! De 2003 a 2007 trabalhei sempre na Cálem onde aprendi imenso e em Novembro do mesmo ano, integrei a equipa técnica de vinhos do Porto, após a conclusão na minha licenciatura em Engenharia Agrícola na UTAD.
Desde Agosto de 2013 que assumi a liderança da enologia dos Vinhos do Porto do Grupo Sogevinus.
Quais foram os seus maiores desafios?
O maior desafio é ao mesmo tempo muito gratificante: preservar, cuidar e respeitar a identidade secular das principais das marcas de vinho do Porto existentes com o objetivo de ainda estarem vivas nos próximos seculos.
O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos?
O mais relevante no mercado dos vinhos é que hoje em dia o vinho Português é cada vez mais reconhecido no mundo inteiro! É um orgulho ver o que temos conseguido alcançar! No âmbito do vinho do Porto, este passa por uma fase de transição a nível mundial. Há cada vez mais apetência pelo estilo Tawny, onde os vinhos do Porto com indicação de idade e colheitas, são os grandes protagonistas. Este é claramente o estilo e a alma portuguese. É esta autenticidade e carácter que está a revitalecer o sector do Vinho do Porto.
O que pensa do serviço de vinhos nos restaurantes?
O serviço de vinhos nos restaurantes tem vindo a melhorar bastante. Diria que existem muitos locais em Portugal que já se encontra num patamar de excelência.
Contudo, ainda há um percurso a fazer em restaurantes de gama média, muito visitados por turistas e que por vezes não tem um serviço de vinhos à altura.
Devemos ser nós, as casas produtoras de vinho a incentivar e ajudar os restaurantes a serem mais cuidados na apresentação dos nossos vinhos. Por outro lado devemos também instruir os consumidores de como devem consumir os vinhos para que o serviço seja cada vez melhor.
Em muitos locais o vinho do Porto ainda é servido à temperatura ambiente quando este deveria ser ligeiramente refrescado para ser ainda mais apreciado.
Qual a sua opinião sobre o serviço de vinho a copo?
É uma excelente ideia e tem cada vez mais adeptos, sendo eu também adepto do vinho a copo.
O serviço de vinho a copo é algo que devemos privilegiar pois democratiza o acesso aos vinhos. Se não comemos o mesmo porque temos de beber o mesmo?
Qual foi o melhor vinho que teve oportunidade de provar?
Diria que não tenho um vinho no meu topo de preferências. Devido a minha profissão tenho a possibilidade de provar muitos vinhos, e para mim um bom vinho é o que me dá prazer no momento em que o estou a consumir e é isso que um vinho deve dar ao consumidor! No entanto tenho 1 vinho que me ficou na memória, o Burmester Novidade 1890. Um vinho de uma complexidade extrema! Foi de facto beber historia!
Qual a experiência em restaurante que melhor a impressionou?
Já tive várias experiências que me impressionaram e é sempre difícil selecionar uma!
Talvez a mais recente que me impressionou imenso foi em Março deste ano no restaurante londrino The Ledbury.
por Mário Rodrigues
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