Filho e neto de agricultores, desde cedo esteve presente nas atividades ligadas à vinha e ao vinho participando em diversas tarefas
Rui José Xavier Soares, coordenador de Viticultura da Real Companhia Velha, natural de Valdigem em Lamego. Nasceu em 1973 numa freguesia situada em plena Região Demarcada do Douro. Filho e neto de agricultores, desde cedo esteve presente nas atividades ligadas à vinha e ao vinho participando em diversas tarefas, sobretudo no tempo das férias escolares. A dedicação e paixão que o avô Fernando sempre dedicou ao mundo do vinho incutiu-lhe o gosto por um sector que mais tarde viria a abraçar e esteve na origem da decisão de concorrer ao curso de Engenharia Agrícola na UTAD, que frequentou entre 1990 e 1995.
Qual o seu percurso profissional nesta área?
No final do ano 1996, decidi responder a um anúncio de jornal local em que se pediam Engenheiros Agrícolas para uma empresa vitivinícola do Douro. Concorri e ingressei na Real Companhia Velha, assumindoentre Janeiro/1997 e Abril/2001 funções de responsável técnico da Quinta Casal da Granja e Quinta do Síbio, situadas em Alijó. A partir de Maio/2001 até à presente data assumi idênticas funções na Quinta dos Aciprestes e Quinta do Cidrô, localizadas em São João da Pesqueira, desempenhando desde 2012 funções de coordenador de viticultura da empresa.
A nível pessoal, a partir da vindima de 2002, decidi enveredar pela comercialização de vinhos DOC Douro produzidos a partir das vinhas familiares situadas em Valdigem. Durante muitos anos a quinta comercializou uvas para vinho do Porto e apenas produzia vinho Douro para consumo próprio.
Resultado da experiência profissional acumulada desde 1997, decidi iniciar uma nova etapa na vida da nossa casa: a produção de vinhos de alta qualidade – Esmero, o que de bom o Douro tem para oferecer! Atualmente produzimos vinhos brancos e tintos com as marcas Esmero e Mimo.
Mais recentemente (2012) abracei um projeto na área da animação turística na região do Douro juntamente com colegas e amigos de longa data. Surgiu assim a Wine Moments & Gourmet, destinada a suprimir uma lacuna na ocupação de tempos livres dos turistas que visitam a nossa região. O Douro possui atualmente um conjunto interessante de unidades hoteleiras mas faltava uma oferta de serviços como roteiros, workshops, provas comentadas, entre outros, realizada por profissionais do sector que conhecem e sentem a região a fundo!
Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade nesta área?
Na Real Companhia Velha conseguir implementar nas quintas da empresa uma gestão da exploração que concilie as questões técnicas com a vertente económica. Produzir matéria prima de alta qualidade a custos controlados foi desde a primeira hora um objectivo delineado pela Administração da empresa que, 16 anos passados, se encontra plenamente alcançado e em velocidade cruzeiro.
Na Esmero conseguir transformar um produtor de uvas numa empresa de vinhos mantendo sempre o cunho familiar que esteve na génese do negocio, valorizando e potenciando o património vitícola iniciado há mais de 40 anos.
O que acha deveria ser alterado na postura de alguns dos restaurantes e hotéis relativamente ao serviço de vinhos?
Ações tão simples que custa a crer como ainda não são mais implementadas…
Praticar margens mais reduzidas para incrementar o consumo de vinho; “banalizar” o consumo de vinho a copo; serviço de vinhos em copos adequados e a temperatura adequada, tantas vezes negligenciada num país com tanta história e tradição vínica.
Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
Quando iniciei a minha atividade como produtor de vinhos deparei-me com um problema na escolha do nome para o primeiro vinho que vinifiquei. Como é difícil inventar coisas novas e como muitas vezes os nomes que achamos serem uma mais valia já se encontram registados cheguei a um impasse. Lembrei-me então que um dos conceitos incutidas na Real Companhia Velha desde há muitos anos foi o de produzir uvas e vinhos com o máximo de Esmero, dando atenção a todos os pormenores que num mundo competitivo como o atual fazem a diferença. Tornou-se então nessa altura fácil escolher o nome para esse vinho que tinha sido produzido desde a vinha até à garrafa sempre com o máximo de Esmero!
Qual o vinho que teve oportunidade de provar que mais o surpreendeu e de que país?
Curiosamente um vinho português…Grandjó 1925. Tive oportunidade de provar uma das poucas garrafas que ainda restam em stock no ano 2011 e fiquei estupefacto com a juventude, elegância e complexidade de um vinho branco (quase centenário) que desafia a lógica e destrói qualquer escala de classificação. Se dúvidas houvesse, a prova de que os grandes vinhos são intemporais!
Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
Sendo um apreciador de comida tradicional portuguesa julgava que poucas surpresas poderia encontrar nesta matéria. Todavia, á alguns atrás deparei-me com uma proposta de Milhos à Trasmontana no restaurante Cepa Torta em Alijó que desconhecia em absoluto, o que se tornava mais estranho sendo eu duriense de gema… Fiquei rendido à autenticidade e riqueza de sabores que o prato fornecia e que se conjugava na perfeição com o nosso Esmero tinto do Douro e que permitiu num dia frio de Inverno aquecer o corpo e a alma!
por Mário Rodrigues
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