Sempre tive o prazer de viver, e de apreciar o que a vida tem de magnânime, de sublime e arrebatador.
Lembro-me em miúdo, da excitação de chegar a casa dos meus avós maternos, em Lisboa, depois de uma viagem de várias horas, vindo do norte. Tudo era avassalador, o cheiro da casa, a recepção dos meus avós, particularmente da minha avó com os beijinhos repetidos e carinhosos na face ou na testa, ou ambos, o aroma de tudo o que os netos gostavam, já preparado para a primeira refeição. Dava voltas a toda a casa, revisitando todas as divisões, absorvendo cheiros, revendo alguns instrumentos de pintura ou fotografia do meu avô, revisitando velhos brinquedos. Sentia, e com razão, que aqueles momentos eram únicos, que não se voltariam a repetir, pelo menos da mesma forma. Cada vez, era única e diferente. Ainda hoje ao ler estas linhas, sinto um arrepio, pena de não voltar, e sorte de ter tido a felicidade daqueles momentos. Tive uma infância e adolescência, em que estes momentos eram cíclicos e de grande felicidade. Sempre tive o prazer de viver, e de apreciar o que a vida tem de magnânime, de sublime e arrebatador. Tive a sorte de ter sempre a minha mãe ao lado, e das minhas irmãs, pois não trabalhava, para mal dela e benefício comum, enquanto o meu pai desenvolvia a sua actividade profissional. Voltando à avó, recordo as noites ou e/ou fins de tarde de preparação, quer de refeições quer de doces. A cozinha era grande, numa casa antiga de Lisboa, com balcões em mármore, onde a minha avó de origem alentejana, Redondo, fazia a preparação dos pitéus, que eu tanto apreciava. Acima de tudo penso no carinho que ela punha em tudo o que fazia na cozinha, e na forma como tudo ia para a mesa. O rigor da mesa, atenta e disciplinarmente vigiado pelo meu avô, era o complemento. Estava de calções, por vezes em bicos de pé, quando os preparados se perdiam do meu horizonte na pedra mármore, com as mãos atrás das costas, observando aquele ritual, verdadeiramente apaixonante e que me cativava profundamente. Perante este interesse, a minha avó, começou a pedir a minha colaboração, em coisas simples, como segurar um alguidar onde se batia uma massa para fazer um qualquer delicioso bolo, ou massa folhada, de que ainda hoje guardo o intenso aroma, que depois na mesa merecia rasgados elogios pelos comensais presentes, e que eu assumia automaticamente e com grande orgulho a abrangência da minha pessoa. Foi o início do meu interesse pela cozinha, e pela função social importantíssima da mesa, em que aliás a minha avó paterna, transmontana, de Cabril, no Gerês, também teve um papel importante, embora de uma forma que considero diferente. Nos últimos 20 anos tenho vindo a desenvolver a actividade na área da gastronomia, criando projetos que têm sido marcantes pessoal e profissionalmente, sendo ao longo do tempo referências no mercado. Tenho também colaborado com a imprensa escrita e falada, em artigos específicos e produção de programas. Eis a musica de Carlos Buono – André Rieu arrebatadora que encontrei, ouvi e me emocionei, que define toda a minha vida e prazer de viver, onde englobo todo o amor e carinho que tenho pelos meus dois filhos, Tiago e Rita. Mário Rodrigues |
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