Boas companhias fazem momentos únicos
por Joana Lemos
Desde muito pequena, segundo relatos dos meus pais sempre fui um bom garfo, e mais que bom garfo, sou do tipo de pessoa que tiro partido de todas as refeições como se de banquetes se tratasse, fazendo de cada uma um acontecimento. Talvez por isso, são várias as historias que tenho à mesa, que misturadas pelos sabores que cada refeição me proporciona acrescentam ainda boas memórias de vivências únicas. De facto, para mim, à mesa, e em boa companhia são proporcionadas historias divertidas, que muitas delas nos acompanham ao longo dos tempos. De entre uma variedade de testemunhos e experiências à mesa, sobressai-me uma engraçada, que também me marcou..
Estávamos em 1997, e eu, o Duarte Nobre Guedes, O Duarte Cancela de Abreu, e o Luís Dias tínhamos ido mais uma vez a Paris para os últimos testes e posterior apresentação do nosso Dakar. Eu e o Duarte NG enquanto pilotos da Nissan, o Luís Dias enquanto pré-preparador do carro e o Cancela de Abreu como nosso responsável de comunicação. No fim de todos esses deveres cumpridos, era altura de termos uma refeição mais tranquila (sem as exigências próprias de um desportista..) e usufruir de um bom jantar, num dos melhores restaurantes Italianos. Foi de facto um jantar simpático, onde a risada foi uma constante, ora porque o nosso querido Luís brincava com o aroma forte e o ar fresco das Trufas pretas, ou simplesmente o Cancela ironizava pelas quantidades de pratos que se iam sucedendo, tornando obrigatória a ingestão de uns bons digestivos, Limonccelos, foi sem duvida um bom momento de repasto, que, mais uma vez acompanhada pela partilha de boas historias e enormes risadas…mas a historia não acaba assim, ao irmos para o Hotel , e como gesto de agradecimento pelo convite do jantar feito pelo Duarte NG, eis que o nosso grande amigo Luís, resolve convidar-nos para um novo repasto mas desta vez na sua terra , Grândola. Convite esse que todos aceitamos com enorme agrado e confesso com grande expectativa, pois o Luís não deixava as coisas por mãos alheias, e o desafio era mesmo, proporcionar-nos um bom almoço, em que a qualidade iria ser superada, sem ser por isso necessária pagar quantias astronómicas ( pois tinha ficado um pouco chocado com o preço das trufas…mais caras que o ouro como o próprio ironizava.
Assim foi, no dia marcado, lá estávamos todos de novo prontos para tirar partido de mais uma refeição que prometia muita animação, sobretudo pelo repto lançado. O Luís tinha razão, de facto o almoço foi ainda melhor que o nosso anterior que tinha sido espectacular. O trunfo (trocado pelas trufas) foi fácil, cozinhar umas maravilhosas favas (um dos meus pratos preferidos) com todos os enchidos acompanhados por uma ótima salada de alface e cebola, tudo produtos da horta dele, com os verdadeiros sabores, regados por um bom vinho da região. O desafio do Luís foi de facto superado…na nossa terra, temos dos melhores e mais saborosos alimentos , que partilhados em boas companhias fazem de todas as refeições momentos únicos. Por ser um ritual diário, não faz dele um momento banal, pelo contrario, continuo a desfrutar cada refeição e cada momento, como muito especiais….por isso me considero privilegiada, pois colecciono já um cabaz deles…