A aldeia vinhateira dos moscatéis do Douro tem excelentes condições para a produção de brancos de altitude. As novas colheitas DOC Douro Casa Velha da Adega de Favaios evidenciam a vitalidade desta cooperativa de viticultores, 70 anos após a sua fundação

O planalto de Favaios que ficou arredado da produção de Vinho do Porto durante décadas (1935-1951) aproveita agora o Douro mais fresco para se afirmar também na produção de vinhos brancos de qualidade.

O novo fôlego deste Douro preterido no passado e hoje cada vez mais apreciado é, na realidade, um trabalho que já leva duas décadas na Adega de Favaios, a cooperativa criada em 1952 para dar resposta às dificuldades em que ficaram os viticultores da aldeia, impedidos de produzir vinhos de Benefício.

“Fomos os primeiros no planalto a investir em brancos e a fazê-lo com qualidade”, comenta Mário Monteiro, presidente da cooperativa desde 2006.

A preocupação em manter a sustentabilidade da adega e responder à necessidade dos associados justificam a aposta, acrescenta aquele responsável: “O planalto de Favaios não é só Moscatel. Os viticultores gostam de ter diversidade de castas nas suas vinhas, até para prevenir algum mau ano para uma ou outra casta”.

A mesma perceção teve a equipa de enologia que no final de 2001 entra em funções na Adega de Favaios. “Nessa altura, dominavam nas nossas vinhas castas muito produtivas com pouco interesse enológico. Quisemos estudar novos caminhos e fizemos vários ensaios de vinificação de castas que considerávamos mais adequadas para o planalto. Com resultados animadores, iniciámos o projeto de incentivo ao viticultor para que plantasse essas mesmas castas nas reconversões que fossem feitas a partir daí”, comenta Miguel Ferreira, diretor de enologia da adega.

Essas castas são hoje dominantes nas parcelas de branco – Viosinho, Gouveio, Gouveio Real, Arinto, Rabigato –, estando atualmente a ser também incentivada a plantação de castas quase desparecidas como o Samarrinho e o Donzelinho Branco.

A criação de um circuito autónomo para a entrega na adega das uvas para brancos reforça esta aposta. Assim como é fundamental a existência de uma equipa coesa e estável, incluindo na enologia Celso Pereira e Filipe Carvalho, além de Miguel Ferreira, bem como a disponibilidade de tecnologia moderna.

“É todo este trabalho e investimento que nos valida o projeto Casa Velha, a gama DOC Douro de qualidade superior da Adega”, conclui Miguel Ferreira.

Fundada em 1952, a Adega de Favaios nasceu da persistência dos seus viticultores, não conformados com a portaria governamental de 1935 que excluía a aldeia vinhateira, situada a mais de 500 metros de altitude, do Benefício que permitia aguardentar os seus mostos. Já então se produzia em Favaios Vinho do Porto da casta Moscatel, pelo que os agricultores locais se viram em dificuldades quando ficaram interditos de produzir este vinho fortificado.

O revés acabou por favorecer a marca Moscatel de Favaios, hoje amplamente reconhecida e principal símbolo desta freguesia de Alijó que vive da produção de vinho – lembramos, a Adega de Favaios reúne quase todos os viticultores da freguesia (481 associados). Atualmente, o vinho Moscatel produzido pela adega representa 79 por cento da cota de mercado da região e 52 por cento da cota nacional de moscatéis, valores a que corresponde uma produção média de 5,5 milhões litros de vinho (60 por cento Moscatel Galego, 15 por cento outros brancos e 25 por cento tintos).

Detentora de um património invejável de moscatéis antigos, a Adega de Favaios inclui ainda no seu portefólio duas gamas de DOC Douro, Encostas de Favaios e Casa Velha, bem como espumantes.

A funcionar desde 2012, o serviço de enoturismo da adega integra sala de provas, loja e espaço museológico.

Casa Velha branco 2021 tem o PVP de 4,5 euros; Casa Velha Reserva branco 2020 de 8 euros; Casa Velha Grande Reserva branco 2019 de 15 euros e Casa Velha Gouveio 2021 de 5,75 euros.