Eunice Maia, uma professora minhota emprestada a Lisboa que desenvolveu o projeto ‘Maria Granel’, levou para casa o primeiro lugar do Prémio Terre de Femmes, iniciativa promovida pela Fundação Yves Rocher que todos os anos distingue mulheres com projetos a favor do ambiente
Com o objetivo de combater o desperdício alimentar e a produção de resíduos e numa altura em que a emergência do combate ao plástico se começava a popularizar, Eunice pôs mãos à obra e criou, em 2013, a Maria Granel, uma mercearia claramente à frente do seu tempo. Seis anos depois, chega o galardão.
Foi a primeira ‘Zero Waste Store’ europeia e uma das pioneiras em todo o mundo a dispensar totalmente as embalagens de plástico e a vender exclusivamente a granel. Em Portugal, esteve na vanguarda do conceito ‘BYOC’ (Bring Your Own Container) e com ele já incentivou milhares de portugueses a levarem o seu próprio recipiente para reabastecer na loja apenas com a quantidade de produto de que necessitam, evitando assim desperdício alimentar. Em menos de três anos, contribuiu para desviar mais de um milhão de sacos de plástico do caminho dos aterros.
O compromisso desta minhota é com o futuro, ou não fosse ela professora. Para Eunice, ser empresária não é o fim em si mesmo, mas um meio para contribuir para a redução da pegada ambiental e para assegurar a sustentabilidade do ecossistema. Isso mesmo está materializado em todos os produtos que disponibiliza na loja: são 100% biológicos, certificados e livres de organismos geneticamente modificados (OGM), respeitando os solos e o ritmo das estações do ano e da terra.
Eunice Maia quer fazer claramente a diferença na vida dos seus fregueses e, por isso mesmo, disponibiliza gratuitamente consultas com uma nutricionista e workshops que promovem um estilo de vida ‘zero waste’.
Na sua ‘to do list’, Eunice regista todas as semanas o seu desígnio maior: mostrar a cada vez mais pessoas que é possível reduzir a produção de resíduos e o desperdício alimentar. E é por isso que a professora desenvolve também o “Programa Z(h)ero”, uma iniciativa ‘Maria Granel’ que pretende incentivar e sensibilizar escolas e instituições para a redução do desperdício e do plástico. Só em 2018, este programa chegou a mais de mil crianças, alcance que Eunice Maia pretende mais que quintuplicar em 2019. Para o efeito, será precisamente neste programa de sensibilização que a recém-laureada canalizará o galardão recebido pelo Terre de Femmes.
Eunice Maia vai agora representar Portugal na corrida ao Grande Prémio Internacional, no valor adicional de 10 mil euros, numa competição que juntará também as primeiras laureadas dos restantes países onde já existe o Prémio Terre de Femmes, nomeadamente, Alemanha, Espanha, França, Itália, Marrocos, México, Rússia, Suíça, Turquia e Ucrânia. Já em 2015 foi a uma portuguesa, à bióloga Milene Matos, a quem coube também a distinção internacional.
Para além de Eunice Maia, também Ana Filipa Sobral e Joana Benzinho foram premiadas nesta décima edição do Prémio Terre de Femmes, que atribuiu galardões no valor total de 18 mil euros.
Recorde-se que, escolhidas entre dezenas de candidaturas, as agora conhecidas eco-cidadãs do ano foram selecionadas por um júri independente e altamente qualificado, composto pela bióloga e antiga laureada Milene Matos; por Luísa Schmidt, socióloga e investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; Susana Fonseca, investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e membro da direção da Associação Zero; e Mário Grácio, técnico especialista do Ministério do Ambiente.
A distinguir projetos a favor do ambiente desde 2009, em terras lusas o Terre de Femmes já premiou 22 mulheres e apoiou com mais de 100 mil euros projetos que têm revelado um forte impacto social, ambiental e económico. A nível internacional, o Prémio Terre de Femmes vai na 18.ª edição, tendo apoiado já mais de 400 mulheres em mais de 50 países, num investimento total de 1,8 milhões de euros.
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