O Moscatel de Setúbal, ex-libris da Região Vitivinícola da Península de Setúbal, reconhecido internacionalmente pela sua qualidade e autenticidade, influenciado pelas condições geográficas e climáticas únicas na região, comemora este ano os 110 anos do reconhecimento da sua importância e qualidade, que culminaram com a demarcação da sua região produtiva (hoje Península de Setúbal) e a sua proteção legal.
Para celebrar esta efeméride a Confraria do Moscatel de Setúbal irá promover, no dia 24 de novembro, o seu III Grande Capítulo, no Salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Setúbal, onde serão entronizados novos confrades, que se comprometerão a defender, promover e valorizar o Moscatel de Setúbal.
Foi em 1907 que a Região Demarcada do Moscatel de Setúbal foi criada, tendo no ano seguinte sido regulamentada a disciplina de produção e comércio deste vinho generoso, contudo a história da sua produção está documentada desde o século XIII. Eram várias as cortes na europa que consumiam com regularidade este licoroso, com forte caráter cítrico, doce e ‘compotado’. Em 1381, o Rei Ricardo II de Inglaterra mencionava a importação de Moscatel de Setúbal, e no século XVII, Luís XIV – o ‘Rei Sol’, não o dispensava nas festas de Versailles. A história secular do Moscatel de Setúbal continua o seu caminho glorioso e tem acrescentado, na história mais recente, inúmeros prémios e distinções internacionais. Nos últimos anos, o pódio do prestigiado concurso francês “Muscats du Monde” – que coloca à prova centenas de Moscatéis de todo o mundo – tem invariavelmente os licorosos de Setúbal no TOP 10 dos mais pontuados – e já viu por três vezes um Moscatel de Setúbal ou um Moscatel Roxo de Setúbal ganhar esta competição.
E se os vinhos provenientes da casta Moscatel proliferam pelo mundo, é em Setúbal que o estilo ganha uma identidade única, resultado da cumplicidade entre a natureza e o homem. Este terroir, berço do Moscatel de Setúbal, é irrepetível: junta à precipitação anual de 550 a 750 mililitros, 2200 horas de sol derramadas sobre terrenos arenosos e argilo-calcários, tudo temperado com uma mão cheia de frescura atlântica. Esta conjugação resulta em vinhos frescos e elegantes, simultaneamente sedosos e untuosos, em conjunto com uma acidez incisiva e intransigente que acrescenta tensão e nervo ao final de boca.
Este generoso é parte da cultura, da tradição e da forma de viver da Península de Setúbal e embora a fama e o prestígio venham de longe a produção de Moscatel de Setúbal continua limitada. A atual área de vinha apta à produção de Moscatel Setúbal é agora de 540 hectares e para o Moscatel Roxo de Setúbal existem agora 42 hectares em produção. No final do Século XX a casta Moscatel Roxo de Setúbal estava reduzida a apenas um hectare, tendo sido replantada a bom ritmo desde o início deste século, em particular na última década, tornando-se uma das mais procuradas, dentro e fora do país, pelos apreciadores de vinhos generosos.
Para Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Península de Setúbal, ‘nas últimas duas décadas tem havido uma forte reestruturação e investimento nas vinhas e adegas da Península de Setúbal, o que tem permitido olhar para a produção de Moscatel de Setúbal com uma perspetiva mais generalizada de médio/longo prazo. Neste momento a região conta com 19 produtores de Moscatel de Setúbal, sendo que quase todos também já produzem Moscatel Roxo de Setúbal (na transição do século XX para o atual só havia 3 produtores de Moscatel de Setúbal). Em 2016, estes produtores foram responsáveis pela certificação de 1 602 932,65 litros de vinhos com Denominação de Origem de Setúbal (Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal). Desde 2000 o crescimento acumulado registado pela CVRPS cifra-se em 60%. Este percentual traduz-se num aumento de 600 mil litros de vinho produzido e comercializado num espaço de 16 anos, o que dá um crescimento anualizado de 3,75% ao ano.’
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