Invulgar é estar a trabalhar no lugar onde nasci. Pois onde hoje é a Pousada de Viseu, já foi outrora Hospital e Maternidade, quem sabe este acontecimento seja mesmo uma história única, a pousada tem um Cozinheiro que o viu nascer!!!!
As influências que estiveram na origem de ser o que sou hoje como profissional, foram várias. Desde o meio rural onde cresci, à profissão de minha mãe também ela cozinheira. No entanto, acredito que à parte das influências, cada um de nós nasce com uma paixão que não tem necessariamente de ter uma explicação óbvia. Eu acredito que sou um apaixonado pela arte de cozinhar.
Tenho na minha memória ainda bem presente, que ainda pequeno, com 4/5 anos de idade, me colocava junto do fogão em cima de um banco, para bem de perto poder assistir à magia da transformação dos alimentos que a minha mãe fazia dentro daquelas panelas, que hoje de tamanho normal, mas que na altura me pareciam gigantescas.
De colher de pau na mão e sempre com a vigilância de minha mãe, tentava participar sempre nas tarefas. Hoje sei que só atrapalhava!!!
Ao longo da minha vida profissional, sempre me deparei com alguns episódios mais ou menos caricatos e curiosos que se passaram ora nos bastidores ora em contato direto com os clientes!!!
Passo a contar uma pequena história, que tem um aspeto curioso e que me marcou por também se ter passado na 1.ª experiência profissional como cozinheiro.
O proprietário do restaurante onde trabalhava queria colocar uma gama nova de bacalhau na carta. Tratava-se de um bacalhau de cor amarela – posta alta. Quando a entrega do bacalhau foi feita pelo fornecedor o proprietário do restaurante pediu-me para demolhar o bacalhau no fundo do poço que existia em frente do restaurante e que por sinal ficava bem visível da sala de refeições. Achei curioso o pedido, por desconhecer tal método para demolhar bacalhau. Conforme as instruções que recebi, coloquei o bacalhau num saco de rede e preso por uma corda coloquei-o no fundo do poço.
O bacalhau permaneceu no poço durante o dia. Há noite na hora de serviço dos jantares, houve pedidos de pratos de bacalhau. Como o único bacalhau demolhado disponível era o que estava no poço, fui buscar as postas suficientes para os pedidos. A ‘pesca do bacalhau’ decorria debaixo do olhar atento dos clientes, que da sala observavam o que se passava.
A confeção foi feita com normalidade e confirmei que efetivamente o método de demolhar o bacalhau no poço era eficaz. Como de costume enquanto os clientes saboreavam a sua refeição dirigi-me à sala com objetivo de recolher opinião sobre os pratos servidos. Nessa altura fui surpreendido pelos clientes ao me terem questionado sobre a ‘pesca do bacalhau’ no poço que tinham observado do interior da sala de refeições! Com um sorriso e perante a curiosidade dos clientes respondi que o método tinha sido ideia do proprietário e que era bastante eficaz e que nada alterava o sabor do bacalhau.
Em 11 anos de carreira muitos são os episódios pelos quais passei que de uma forma ou de outra deram origem a histórias mais ou menos curiosas. Mas curioso, curioso, diria mesmo invulgar é nesta fase da minha carreira profissional estar a trabalhar no lugar onde nasci. Pois onde hoje é a Pousada de Viseu, já foi outrora Hospital e Maternidade. Quem sabe este acontecimento seja mesmo uma história única, a pousada tem um Cozinheiro que o viu nascer!!!!
Chef João Carlos Gomes Santos
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