Foram apresentados novos vinhos do conhecido produtor Carlos Lucas, numa sessão bem conseguida no restaurante Muro do Bacalhau, no Porto, com magnífica cozinha do chef João Pupo Lameiras, onde brilharam em harmonizações 1 espumante Douro, 2 brancos, 2 tintos do Dão e um LBV do Douro
A apresentação começou com umas invulgares e saborosas crackers de peles de bacalhau, que o chef teve a amabilidade de introduzir no início para uma “brincadeira” com uma cerveja de Encruzado do Carlos Lucas. A juntar-se, duas outras criações: Escabeche de leitão, batata doce e laranja, e Pão de ar de sardinha e tomate com toucinho. Estas serviram para harmonizar com o Espumante DOC do Douro Herédias Super Reserva 2019 das castas Viosinho, Gouveio e Malvasia Fina, oriundo de uma propriedade no concelho de Tabuaço, na freguesia de Granjinha, junto à margem direita do rio Távora.
Este espumante provém de uma parcela única a rondar os 30 anos e apresenta uma cor dourado pálido. No nariz, tem aromas citrinos e frutos secos, denotando-se alguma intrigante complexidade. Na boca, a mousse é cremosa e delicada, muito persistente, criando uma textura envolvente que equilibra com uma acidez vibrante. Um espumante versátil e repleto de personalidade, com bolha fina e muito cativante.
Seguiu-se o Vinha de Santa Maria Granítico 2024, um DOC Dão 100% encruzado, tendo um Lombo de bacalhau fresco, batata cebola e molho de gema e manteiga tostada, como companhia de harmonização.
É proveniente de solos de origem granítica com grandes afloramentos rochosos, a uma altitude entre os 400-600m e influência dos rios Dão e Mondego.
Um vinho sem influência de estágio em barrica, exibe cor cristalina com nuances esverdeadas, e mostra a autenticidade da casta, de forma fresca e elegante. Possui bom volume de boca e estrutura, assim como uma acidez vibrante de carácter cítrico.
O terceiro vinho foi o Encruzado Dourado 2020, também branco DOC Dão, e foi acompanhado por uma Açorda de fogaça e gamba rosa.
Proveniente dos mesmos solos do Granítico, mas com diferente fermentação, que lhe imprime uma cor dourada e um nariz complexo com notas de fruta branca. Na boca, mostra-se fresco e com estrutura, com uma acidez vibrante que evidencia o seu potencial de envelhecimento. Um branco com um final longo e vibrante.
Para o tinto ET Ribeiro Santo 2019, DOC Dão, foi escolhido Arroz de Pato, alperce e molho de queijo. Produzido a partir de duas castas nativas da região, Encruzado e Touriga Nacional, foi vinificado com maceração prolongada em depósito de inox e fermentação alcoólica com leveduras indígenas, sob temperatura controlada durante 20 dias. Posteriormente, decantou para barricas novas de carvalho francês 225L, onde estagiou por 12 meses.
Apresenta cor rubi média-clara, um aroma mineral e floral fresco, fruta fresca e vibrante, e um nariz muito intenso, mas misterioso e complexo. Na boca, impressiona pela potência e elegância. Taninos jovens e acidez viva que leva a um final especiado, mais estruturado e persistente. Um vivo jovem com elevada capacidade para armazenamento.
Touriga Nacional Grande Escolha: este grande tinto teve como companhia a Presa de porco ibérico, puré de castanha, nabo e nabiça.
Aqui a vinificação foi através da maceração prolongada a baixa temperatura antes de iniciar a fermentação alcoólica em depósitos de inox, com leveduras indígenas, e remontagens suaves para boa extração de cor e aromas. Trasfegado para barricas novas de carvalho francês, onde estagiou durante 6 meses, seguiu-se um período de um ano em garrafa nas caves.
Apresenta cor rubi concentrada, com nuances violeta, aroma expressivo a amoras, chocolate e especiarias. Estruturado, com taninos finos e bem integrados na barrica, revela um fim de boca expressivo e fresco, sendo muito gastronómico e combinando na perfeição com a Presa de porco ibérico, podendo também acompanhar risotto de cogumelos e queijos suaves.
A apresentação culminou com um Quinta das Herédias LBV 2020 emparelhado por uma imperdível Mousse de chocolate e avelã.
Este LVB DOC Douro é originário da mesma propriedade do espumante, no concelho de Tabuaço, com 30ha de vinha, algumas delas com mais de 100 anos, e um solo xistoso com algum afloramento granítico, e que se encontra a uma altitude entre 250 a 470m, com verões quentes e pouca precipitação anual.
Este LVB foi elaborado a partir das melhores uvas da propriedade, provenientes de uma vinha velha. As uvas foram cuidadosamente colhidas manualmente, garantindo uma seleção rigorosa. Seguiu-se o processo tradicional de produção de vinho do Porto com maceração pelicular prolongada, com pisa a pé e curta fermentação alcoólica em lagares de granítico, interrompida com aguardente de Cognac. Estagiou 4 anos em toneis de madeira antigos.
De cor violeta com nuances ruby, apresenta uma complexidade aromática que evidencia nota de frutas negras, figo e um toque balsâmico. Com uma acidez marcante, no paladar revela frescura em equilíbrio com muita fruta e taninos aveludados. Um Porto de elegância, com grande potencial de evolução em garrafa, contudo pronto a consumir.
Foi uma apresentação simples, mas muito profissional, conduzida por Carlos Lucas e o filho Diogo Lucas, que demonstrou claramente a evolução de um grande produtor de vinhos português e que, aqui, comprovou a versatilidade de vinhos da região do Dão e do Douro.
Ficou também demonstrada a importância de um chef com sensibilidade vínica para este tipo de apresentações, em que o Diogo Lucas esteve claramente muito bem, seguindo as pegadas do pai.
Por Mário Rodrigues
Edição Ana Cristina Silva
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