Espaço pequeno em área, mas enorme e rico em conceito e conteúdo cultural, tem na gastronomia praticada o sabor, textura e sensibilidade necessários para nos confortar a alma. Este restaurante nasceu numa homenagem a Cícero Dias, pintor, desenhista e ilustrador brasileiro, grande representante da pintura modernista do Brasil.

De origem pernambucana, o empreendedor e colecionador Paulo Dalla Nora Macedo concebeu este projeto com base na riqueza cultural que deixou transparecer nas suas palavras. Durante a nossa animada conversa, partilhou tais convicções, afirmando: “A arte transforma a gente, completa-nos” e “A cultura salva a gente”.

Na primeira sala, intitulada “A Modernista”, um pequeno balcão é ornamentado com azulejos do pintor, escultor, desenhista e artista brasileiro natural do Rio de Janeiro, Athos Bulcão. Do lado esquerdo temos uma falsa “porta” em vidro criada pela artista plástica e vitralista brasileira Marianne Peretti. Completam esta sala e as seguintes quadros de Picasso e do seu compadre Cícero.

Ao descermos para a 2.ª sala, a “Contemporânea”, passamos nas escadas por uma galeria de fotografias que retratam personalidades da cultura, política e arte do Brasil e de Portugal.

A 3.ª e mais pequena sala, denominada “Origem”, apresenta uma exposição temporária à escala do espaço disponível.

No que diz respeito á cozinha e à gastronomia aqui praticadas, o menu de influências culturais, elaborado pelo sensível chef Hugo Cortêz, incorpora ingredientes selecionados de origem certificada, tanto brasileira como portuguesa.

Uma cozinha simples e elegante, de onde destaco o Tártaro de salmão com morangos em tosta Negra, o prato especial que homenageia a amizade entre Picasso e Cícero, Salmão selvagem e carabineiro, e para sobremesa uma excelente Banana levemente panada em farinha de rosca, molho de chocolate negro da amazónia e gelado de açaí.

Outros destaques incluem entradas e pratos como: patê de salmão fumado e tapenade de tomate seco com parmesão em cone estaladiço; duo de queijos franceses artesanais com doce de leite; presunto Pata Negra 5J com figos e mel de engenho; sardinha em broa de milho com tapenade de tomate seco, pimentos e areia de azeitona verde; gravlax negro de robalo em broa de milho, com geleia de moqueca; carpaccio de polvo, amêndoas torradas em canela, folhas de rúcula e vinagrete de romã;  mozarela de búfala DOP com tomate cereja confitado, espinafres frescos e vinagrete balsâmico com mel do engenho; creme de peixe da nossa costa com telha trufada de moagem artesanal, entre muitas outras imperdíveis opções que englobam também pratos de carne e sobremesas.

Para finalizar mais duas notas: com o café é servido um simples beijinho que não deve ser desperdiçado; a outra foi a oportunidade que tive de provar uma especial cachaça de pitu com estágio de 5 anos em carvalho, numa garrafa invulgar para comemorar os 75 anos de um grande produtor brasileiro.

Ao almoço, o restaurante oferece um “Menu com arte”, por cerca de 30€, que inclui uma refeição completa e uma taça de vinho, enquanto o jantar é à la carte. Uma breve e interessante carta de vinhos complementa um serviço simpático e eficaz de Marcelo e da experiente brasileira Bianca, que veio do Brasil para fazer parte deste projeto

Realce também para debates periódicos com figuras de relevo de diversos quadrantes, hábito que Paulo Dalla já trouxe do Brasil.

Um espaço alfacinha a não perder e que convém reservar com antecedência, dado o seu tamanho discreto que, por fora, quase passa despercebido.

Rua Saraiva de Carvalho, 171
1350-264 Lisboa
Telef: 966 913 699
Mail: [email protected]

Artigo de Mário Rodrigues
Edição de Ana Cristina Silva