Natural de Lisboa (S. Cristovão e S. Lourenço), Gilberto Emanuel de Sousa Lazo Oro Marques, hoje enólogo na Quinta de Pancas, tem como passatempo preferido a fotografia

Despertou para o mundo do vinho desde cedo, tendo a memória do seu avô a fazer vinho em casa, em talhas de barro. Mas o despertar para o vinho aconteceu em 2005, quando foi fazer a sua primeira vindima.

Qual o seu percurso profissional?
Como estagiário, que é uma boa oportunidade de aprender, comecei em 2005 na Herdade Grande.
A vontade de conhecer outras realidades levou-me em 2007 até à Califórnia, nos Estados Unidos, onde trabalhei na Blackstone Winery pertencente ao grupo Constellation Wines.
Ainda na mesma senda, 2008 levou-me à Austrália, Haselgrove, McLaren Vale na Austrália do Sul e posteriormente até à Cooperativa L’Ollivera em Costers del Segre na Catalunha, Espanha.
O último ano como estagiário foi feito na Quinta da Romeira, em Bucelas, com a Companhia das Quintas, em 2009.
Em 2010 fiz a vindima no Monte da Raposinha como enólogo residente, finda a qual me mudei de armas e bagagens para a Quinta de Pancas onde trabalho até aos dias de hoje.

Como enólogo quais foram os seus maiores desafios?
Compreender a região onde estamos a trabalhar, processo que pode levar alguns anos e, mais recentemente, a elaboração dos vinhos para o relançamento da marca Special Selection da Quinta de Pancas, monovarietais, Cabernet Sauvignon e Syrah.

O que mais o fascina no mundo dos vinhos?
A diversidade, não existem dois vinhos iguais no mundo inteiro.

O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
O Mercado dos vinhos é sempre marcado por tendências e algumas modas.
É de notar o gradual desaparecimento de vinhos com excesso de madeira ou grau álcool muito elevado que, de modo geral, não se traduzem (salvo raras exceções) em melhorias de carácter sensorial.
Também de referir é a força que têm ganho ultimamente os vinhos naturais ou de menor intervenção, práticas a encarar sempre com bons olhos, desde que não se passe para o lado do extremismo.

O que acha do serviço de vinho nos restaurantes?
Cada casa precisa de encontrar o serviço de vinho que mais se adequa ao seu próprio trabalho.
Casas há que trabalham hoje em dia o serviço de vinhos de forma irrepreensível, com qualidade e diversidade na oferta. Infelizmente encontramos com demasiada frequência o vinho da casa a jarro. Há vinhos bons a preços acessíveis, não se justifica por margens tão curtas oferecer jarros de vinho aos clientes.

O que pensa do serviço de vinho a copo?
Um regresso às origens e uma das melhores oportunidades de provar bons vinhos, evitar desperdícios e rentabilizar uma garrafa de vinho. No entanto tarda em “vingar” apesar dos esforços que têm vindo a ser feitos nesse sentido.

O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
É uma das principais mais-valias que um restaurante pode proporcionar ao seu cliente. A possibilidade de transformar uma refeição num momento único.

Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
Pelo que tenho tido ocasião de experimentar recentemente, não posso deixar de nomear duas ocasiões: o menu de degustação no Quorum, pela mão do chef Tiago Santos, e o Jantar Vínico no The Yeatman para o lançamento dos nossos mais recentes Special Selection, Cabernet Sauvignon e Syrah, com a mestria do chef Ricardo Costa.

Qual foi o vinho que provou que mais o sensibilizou?
Todoroff “Boutique” Cabernet Sauvignon 2004. Um vinho que a pouca gente dirá alguma coisa, mas que, para mim e o conjunto de pessoas com quem o provei, se tornou memorável.

Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado nacional no que concerne à produção, distribuição e consumo?
Portugal já passou por várias fases relativas à produção e comercialização de vinhos, neste momento, aliás, nos últimos anos, tem havido uma aposta na produção de identidade, vinhos que falam por si próprios. Há algumas casas maiores com apostas mais fortes, mas essencialmente uma miríade de pequenos produtores a produzir vinhos de qualidade nas várias regiões do País e que conseguem valorizar devidamente os seus vinhos. Para isso contam com a colaboração da distribuição que, tendo a capacidade de compreender os negócios, fica em posição de ajudar no crescimento de pequenos projectos. O consumo, mesmo com a evangelização que se tem vindo a fazer, continua a procurar muito o preço baixo e consequentemente, vinho de baixa qualidade, quando existem referências nacionais a bons preços e qualidade imensuravelmente superior.

O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Olhando às estatísticas, parece estar em crescimento o vinho português nos mercados externos, é preciso perceber é que tipo de vinhos são e que valor acrescentam à marca “Wines of Portugal” lá fora.

Quais as histórias que mais o marcaram desde que trabalha nesta área?
O falecimento de um mestre. A pessoa a quem devo grande parte da aprendizagem que realizei no setor, das mais variadas formas, seja como chefe, como colega e como amigo, o Engº João Corrêa.

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O trabalho realizado na Cooperativa L’Ollivera, na Catalunha, mostrou-me o valor das pessoas, o real valor das pessoas. É uma cooperativa para pessoas com incapacidades várias e em vários graus onde cada um realiza tarefas de acordo com as suas capacidades contribuindo para que toda a empresa funcione e cresça.

Entrevista de Mário Rodrigues