Cada ano, cada vindima, é um desafio na vida de um enólogo!

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Luís de Sottomayor, natural do Porto, tem formação académica que inclui cursos de Enologia pela Universidade de Dijon, na Borgonha, e pela Universidade Charles Sturt, na Austrália, para além de uma pós-graduação em Enologia pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto.

Como e quando despertou para o mundo do vinho?
O vinho faz parte da minha vida desde a infância! Nasci numa casa onde se produzia vinho, e naturalmente a época da vindima sempre me fascinou. Para além disso, já o meu Pai foi Enólgo e o meu Avô paterno era administrador de uma casa de Vinho do Porto. Com estas raízes, arriscaria dizer que seguir as suas passadas no mundo dos vinhos foi uma sequência natural.

Qual o seu percurso profissional nesta área?
Ao fim de um ano de experiência numa empresa em Azeitão, no dia 16 de Julho de 1989 comecei a trabalhar na sala de provas de Fernando Nicolau de Almeida. Já nessa altura sabia que estava na casa certa para poder participar na produção dos melhores vinhos do Douro e Porto. Actualmente dirijo a equipa de Enologia da Casa Ferreirinha e de todas as marcas de Vinho do Porto da Sogrape Vinhos, nomeadamente Ferreira, Sandeman e Offley, responsabilidade que assumi em Janeiro de 2003.

Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade nesta área?
Sinceramente não consigo apontar o maior desafio da minha vida profissional, pois felizmente já foram vários! Desde assumir a responsabilidade por Barca Velha e suceder a nomes como Fernando Nicolau de Almeida ou José Maria Soares Franco, passando pela criação de novos vinhos, como foi recentemente o caso do Papa Figos, ou manter a consistência de qualidade de um milhão de garrafas de Esteva que todos os anos a Casa Ferreirinha lança no mercado… Depois há também o Vinho do Porto, e nesse campo é impossível esquecer o desafio que foi a construção dos vintages 2007, logo na primeira vindima como responsável máximo pela enologia! Enfim, cada dia, ou melhor, cada ano, cada vindima, é um desafio na vida de um enólogo!

O que acha deveria ser alterado na postura de alguns dos restaurantes e hotéis relativamente ao serviço de vinhos?
Noto que nos últimos tempos o conhecimento e serviço de vinhos tem melhorado substancialmente, ainda que exista contudo um longo caminho pela frente, nomeadamente ao nível dos copos utilizados, temperaturas de serviço, entre outros pontos. Idealmente, cada restaurante deveria ter um sommelier!

Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
Histórias absurdas não me lembro de nenhuma, mas pelo contrário, recordações interessantes tenho muitas! A situação que mais me foi sem dúvida a oportunidade de trabalhar com Fernando Nicolau de Almeida, e outros vários antigos provadores, e ter tipo a oportunidade de conhecer pessoas com histórias de vida riquíssimas no vinho do Porto.

Qual o vinho que teve oportunidade de provar que mais o surpreendeu e de que país?
O vinho que mais me surpreendeu e continua a surpreender é Português e chama-se Barca Velha! Pela sua complexidade, harmonia, capacidade de envelhecer, e pela história que conta…

Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
A experiência mais recente que tive e que me deixou gratas recordações foi o Hof Van Cleve na Bélgica, mais propriamente em Gent, pelo concerto perfeitamente harmonioso que uma grande diversidade e complexidade de pratos proporcionaram, sempre numa combinação brilhante com os vinhos escolhidos pelo sommelier!

O que acha sobre a evolução dos vinhos Portugueses no mercado mundial?
Na minha opinião a evolução dos vinhos portugueses tem sido lenta, mas extremamente positiva! Veja-se o incremento das exportações, o reconhecimento da sua qualidade pela imprensa especializada, os inúmeros prémios arrecadados em concursos internacionais… Tudo isto revela uma dinâmica muito grande dos produtores nacionais.

por Mário Rodrigues