As propriedades do Douro são uma listagem de parcelas, sem estarem agregadas numa quinta. O insólito denuncia um cadastro vitícola desatualizado. A Prodouro quer aproveitar o novo Conceito Único de Parcela para dar a volta ao problema e tornar oficiais as quintas da região

As propriedades do Douro são uma listagem de parcelas e só aquelas que estão registadas nas Finanças e na Conservatória como “Quinta” é que são designadas como tal no cadastro vitícola. Pode dar-se o caso de numa propriedade totalmente junta com, por exemplo, 30 hectares de vinha, ter vários artigos matriciais e só um estar registado nas Finanças e na Conservatória como Quinta. Na situação atual, só essa parcela poderá produzir vinhos com a designação “Quinta”. Todas as outras parcelas, mesmo que contíguas, não podem. É uma situação caricata porque não tem em conta a unidade da exploração, mas sim o registo nas Finanças e na Conservatória.

Neste contexto, entende-se o regozijo da associação de viticultores Prodouro face ao anúncio da criação do Conceito Único de Parcela, até agora diferente nos três organismos públicos que intervêm no setor, o Instituto do Vinho e da Vinha (IVV), o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) e o Instituto de Financiamento de Agricultura e Pescas (IFAP).

A Prodouro quer aproveitar o novo Conceito Único de Parcela para dar a volta ao problema do cadastro e facilitar a agregação de parcelas ligadas à mesma unidade de exploração em torno do mesmo conceito de Quinta. Desse modo, todas as parcelas, mesmo que com artigos diferentes, desde que situadas na mesma unidade de exploração, que pode ser circunscrita, por exemplo, à mesma freguesia, passariam a constar no cadastro como Quinta.

“Esta é uma oportunidade para rever as questões do cadastro do Douro e introduzir o conceito de quinta”, refere o presidente da Prodouro, Rui Soares, lembrando, no entanto, que é preciso agora perceber qual o método de medição da área que será utilizado: “O Douro deixou de contar as videiras que recheiam uma parcela de vinha, passando a valer a área da vinha, mas nunca medida da mesma maneira. Umas vezes a medição é feita sobre o monitor do computador, outras vezes através de levantamento topográfico preciso. Uma incongruência absoluta e uma desigualdade inaceitável”.

O cadastro vitícola da Região Demarcada do Douro é uma “ferramenta única e inestimável”, pelo que é fundamental assegurar rigor e riqueza da nova base de dados associada à parcela de vinha, acrescenta o presidente da Prodouro: “A informação a recolher terá de ser especializada nas montanhas do Douro, pois serve adicionalmente para o rateio anual da quota de produção do Vinho do Porto, o chamado “beneficio” e há-de servir para outros fins”.

A intenção da União Europeia, com a qual a Prodouro concorda, em reduzir a aplicação de pesticidas na agricultura é um exemplo da importância do rigor do cadastro, o qual servirá para o controlo da compra e uso dos mesmos.

Entre as especificidades do Douro que o novo Conceito Único de Parcela deverá contemplar, particulariza ainda Prodouro, está o inventário das castas tradicionais da região, “uma diversidade inexcedível” que urge salvaguardar. Decisões do passado, deixaram de fora da lista das castas portuguesas variedades tradicionais do Douro que a Prodouro quer agora ver consideradas: a Tinta Roriz (passou a Aragonês), Tinta Amarela (agora Trincadeira) ou a Sousão existente nas vinhas velhas da região e rebatizada com o nome Vinhão, entre outras.

O novo conceito de parcela integra dados como o explorador, a data da plantação, o tipo de cultura, o destino da produção/uva, o modo de condução, a sistematização do terreno, o material vegetativo, o compasso de plantação, as castas, o método de irrigação e a identificação de parcela abandonada. Está a faltar o campo informático agregador de uma ou

 A Prodouro é uma associação de viticultores profissionais do Douro focada no debate e reflexão de assuntos relevantes para a viticultura da região. Entre as causas pró-Douro assumidas pela associação nos últimos anos estão o apoio a medidas de armazenamento de vinho do Porto, denominado de reserva qualitativa ou Benefício de bloqueio, o dossier granizo ou a reivindicação de transparências e acesso para todos os viticultores de informação sobre a produção e o negócio do vinho no Douro, coletados pelo IVDP.

Criada em 2015, a Prodouro conta hoje com 96 associados, entre viticultores independentes, produtores-engarrafadores e adegas cooperativas, abrangendo 5075 hectares de vinha.