O novo projeto Quinta dos Lagares tem a tradição do Douro por inteiro, vinhas do Vale de Mendiz e do rio Pinhão, marco pombalino que simboliza a qualidade das uvas e herdeiros que sonham manter-se ligados à terra

Pedro Lencart e Isabel Sarmento estão ligados à terra desde logo por opção profissional. Ele engenheiro florestal, ela engenheira agrícola, o Douro manteve-se no horizonte do casal mesmo quando Pedro assumiu a direção de projetos na área florestal de grandes empresas do ramo e a família se mudou para o Uruguai e Espanha. A distância acabou, aliás, por motivar o primeiro passo, aquele que se impõe para não perder o leme do sonho, nascendo em 2006 o projeto Vitativis, do qual os novos vinhos Quinta dos Lagares são o principal produto, mas não único.

Numa perspetiva de equilíbrio ambiental e de sustentabilidade do todo, Pedro quer manter a vinha, naturalmente, mas incluindo o azeite e outros produtos de menor escala, a cortiça e o mel, por exemplo, e o turismo. O que implica a gestão integrada do património natural que tem em mãos desde 2007 – uma quinta de 70 hectares, dos quais 27 de vinha, 12 de olival em modo de produção biológico e 31 de floresta onde predominam as espécies mediterrâneas, nomeadamente sobreiros, carrascos e medronheiros. É a preservação e valorização deste património paisagístico pouco comum no Douro, as vinhas e a floresta, que motivam Pedro e Isabel. É este o sentido de projeto alternativo, independente e de nicho presente no conceito dos novos vinhos Quinta dos Lagares.

Com o aluguer da Quinta dos Lagares à família de Pedro, o casal inicia em 2007 um conjunto de investimentos na vinha e na adega, instalada no rés-do-chão da casa que remonta a finais do século XVIII. Inaugurada em 2013, a nova adega manteve os lagares de granito e permite aos promotores do projeto apresentar um portefólio de vinhos com marca própria desde 2011 e representativo da diversidade e do potencial da quinta, sete referências no total: o rosé Quinta dos Lagares Mourisco, quatro tintos, o branco de 2014, primeira experiência, e um Porto da colheita de 2015, em aprovação pelo IVDP, para começar nos vinhos fortificados, ou melhor, para dar marca comercial a uma tradição de longa data na quinta, a da produção de vinho do Porto.

Luís Leocádio é o enólogo principal, contando ainda com o apoio de Rui Reguinga que ali faz os seus vinhos. João Pissarra apoia na viticultura e gestão do projeto e é responsável pela enologia dos vinhos do Porto.

Das vinhas da Quinta dos Lagares sobressai a sua localização privilegiada, no Vale de Mendiz, a proximidade ao rio Pinhão e a diversidade entre muros. 

Situadas a altitudes que variam entre os 230 a 560 metros, as vinhas da quinta têm exposições de sul a norte, de este a oeste, e idades diversas. A mais antiga foi plantada em 1944, 15 mil pés de videira estabelecidos segundo a norma da época, ao compasso de 1,5 m2 e com a mistura aleatória das castas tradicionais da região. A de 1972 é em patamares e foi das primeiras vinhas mecanizadas do Douro. Seguiu-se a plantação de 10 hectares, em meados dos anos 80, e novos plantios e reconversões entre 2000 e 2012. No total, temos hoje na Quinta dos Lagares 27 hectares de vinha, 60% com idades que vão dos 47 aos 73 anos.

Nas vinhas velhas misturam-se as castas mais comuns da região, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tintas Roriz e Barroca (70%) e muitas outras da diversidade do Douro: Tinta Amarela, Carvalha, Francisca e Aguiar, Bastardo, Moreto, Cornifesto, Rufete, Sousão, Marufo, Tinto Cão, Mourisco de Semente e ainda as uvas brancas Malvasia Fina, Gouveio, Códega de Larinho.

As vinhas mais recentes têm povoamentos extremes das castas tintas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinto Cão e Sousão, e das castas brancas Viosinho, Rabigato e Malvasia Fina.

O marco Pombalino 86 é o vestígio mais longínquo no tempo da Quinta dos Lagares. Pelo menos conhecido e classificado. Ali colocado durante as demarcações de Marquês de Pombal, atesta a boa aptidão da propriedade para a produção de vinho do Porto, ainda hoje, aliás, classificada, na quase totalidade, com a letra A – a melhor categoria deste histórico processo de catalogação das vinhas do Douro para produção do seu mais famoso vinho.

Lavradores abastados da Póvoa do Lanhoso no início do século XIX, a família de Pedro Lencart foi mantendo, ao longo de sucessivas gerações, a relação com a terra, a vinha e o comércio de vinho do Porto. À mistura com a engenharia química e as ciências farmacêuticas e entre o Porto e o Douro, a partir de meados do século XIX, quando o trisavô Arnaldo Narciso se tornou também produtor de vinho no Douro. Em plena crise da filoxera e esgotadas as esperanças nos processos de ataque químico direto à praga, este antepassado foi dos primeiros a usar bacelos americanos, imunes ao inseto, para neles enxertar as castas da região, tendo começado por semear, em 1880, grainhas de uvas americanas, por ele importadas, na sua vinha de Covas do Douro.

Em 1920, a família comprou a Quinta dos Lagares, à altura propriedade de um alentejano que veio para o Douro plantar olival. A produção de azeite mantém-se desde então, crescendo a área de vinha nas décadas seguintes até aos 27 hectares, ainda hoje mantidos. Durante as quatro décadas seguintes todo o vinho do Porto produzido na quinta, primeiro pelo bisavô Narciso Pedro, depois pelo avô Narciso Lencart, era vendido a uma das grandes casas da região. A partir de 1963, a produção passou a vender-se em uvas, à mesma empresa, relação comercial que se mantém até hoje.

Atualmente, a Quinta dos Lagares é propriedade de cinco herdeiros, estando alugada à Vitavitis, a empresa que Pedro Lencart e Isabel Sarmento criou em 2006 para dar seguimento aos projetos na área agrícola e florestal que querem desenvolver.

Quinta dos Lagares Rosé Mourisco 2015 – A proposta de criação deste vinho surge depois da vindima de 2014, na qual foi necessário descartar grande parte das uvas da casta mourisco por terem amadurecido mais cedo do que as restantes e já não se apresentarem em boas condições. Para evitar este desperdício, no ano seguinte, anteciparam a colheita desta casta, fazendo duas vindimas na vinha velha onde está plantada a casta, e vinificaram a Mourisco em separado, resultando um rosé diferente e cheio de frescura. Além de ser o único rosé de Mourisco no mercado, a diferenciação passa também pela capacidade de guarda do vinho. Tem o PVP de 6.70€

Quinta dos Lagares tinto 2013 – Este é um vinho de lote de vinhas velhas localizadas a 500 metros de altitude e de vinha de Touriga Nacional, situada a 300 metros de altitude. PVP de 6.70€

Quinta dos Lagares Reserva tinto 2011 – Vinho de perfil do ano, de uvas colhidas em vinha velha de cota mais baixa, a 260 metros. É um vinho tipicamente Douro, com muita estrutura e concentração. O vinho teve pisa a pé em lagar e estágio de 12 meses em barrica. PVP de 13.30€

Quinta dos Lagares VV44 2014 (pré-apresentação) – Topo de gama da Quinta dos Lagares, este vinho é produzido a partir de uvas colhidas na vinha velha de 1944, com escolha de uvas na vindima e pisa a pé em lagar. Fresco e ainda jovem, este vinho vai ser colocado no mercado no outono. PVP de 5.30€

Lagares Marco 86 – Vinho do ano de 2014, Touriga Nacional e Touriga Franca, sem madeira. PVP de 20.80€