O maior desafio é mostrar a versatilidade de castas autóctones da região dos Vinhos Verdes, tentando sempre contornar o preconceito de vinho barato

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João Miguel de Arrochela Camizão Pais da Rocha, natural do Porto, despertou para o mundo do vinho quando sentiu a sua falta durante um projeto longo de trabalho quando esteve na Índia, durante dois anos e meio. Foi aí que decidiu começar o projeto Sem Igual. De volta a Portugal, em meados de 2012, começa o projeto, com a colheita de 2012.

Qual o seu percurso profissional?
Após terminar a licenciatura, em 2000, começo a fazer investigação científica na Universidade de Aveiro, em análise tecno-económica de redes e serviços de telecomunicações, em 2004 vou para a Siemens abraçar um projeto novo, como escritor técnico. Entretanto mudo para a Nokia onde sou convidado a estabelecer uma equipa de I&D em Bangalore – Índia. De vota a Portugal, começo uma pós-graduação em viticultura 2 enologia no FCUP / ISA. Entretanto nas telecomunicações tenho estrada ao trabalhar na gestão de negócio e portfólio. No mundo dos vinhos, tenho feito e aprendido de tudo um pouco: viticultura, vinificação, prova, e a parte comercial também.

Como enólogo quais foram os seus maiores desafios?
Mostrar a versatilidade de castas autóctones da região dos Vinhos Verdes, tentando sempre contornar o preconceito de vinho barato. Claro está, sem a utilização de barricas, o desafio torna-se mais estimulante, na mina perspetiva

O que acha mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos nos últimos anos?
Quer na ótica do produtor, e do consumidor há aspetos bastante positivos na evolução do mercado do vinho. Consumidor: acesso a maior variedade de vinhos, quer a nível de castas, quer a nível de regiões, quer a nível de país. Produtor: o vinho torna-se num sinónimo de prestígio nos países ricos, tipicamente não consumidores, nos países tradicionalmente consumidores, o consumo aumenta e sobretudo aumenta curiosidade por perfis mais singulares e exclusivos.

O que acha do serviço de vinho nos restaurantes?
Infelizmente, caso rasas exceções, o serviço é pobre. É aqui que há muito espaço para melhorias, pois é aqui que termina a viagem do vinho, desde a vinha até ao consumidor. É aqui que se faz uma pré-formatação cerebral do consumidor. É aqui que se passa uma mensagem muito importante. É decididamente aqui que temos de focar grande parte da nossa atenção.

O que pensa do serviço de vinho a copo?
É uma excelente oportunidade para educar o consumidor, a maior parte dos vinhos de excelência que temos tem um comportamento em serviço muito bom, permitindo uma garrafa estar aberta 3 ou 4 dias, sem que se percam qualidades. O vinho a copo deve ser estimulado e a oferta tem de aumentar.

O que acha dos conselhos de harmonizações como parte integrante do serviço de vinhos nos restaurantes?
Este é mais um ponto fraco, ou melhor um ponto a melhorar. Tem uma importância extrema, pois o vinho tem de ser consumido acompanhado gastronomicamente, essa combinação pode agregar muito valor à experiência, como pode também ser destruidor. É uma ferramenta adicional para explicar o vinho.

Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?
Uma vez, em Itália, em 2013, quando comecei a fazer algumas perguntas básicas sobre que vinho deveria escolher e terminei com uma lição esclarecedora sobre várias opções, o porquê e as consequências. Aprendi muito e desde então voltei lá mais um par de vezes. E quero continuar a ir lá por muitos mais anos.

Qual foi o vinho que provou que mais o sensibilizou?
Um vinho provado às cegas, em 2015 – Clarete 2004 da Quinta do Monte D’Oiro. Pela singularidade, pelo equilíbrio, pelo mistério e pela sua simplicidade complexa.

Qual a sua opinião sobre a evolução do mercado nacional no que concerne à produção, distribuição e consumo?
Opinião polémica… mas aí vai: existe overhead demasiado marcante entre o produtor e consumidor.

O que acha da evolução da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Penso que vai aumentar lentamente. Imagino que se a taxa de penetração aumentar muito rápido será um mau sintoma. Pois temos que continuar a fazer devagar e bem… aumentando o valor!

Qual a história que mais o marcou desde que trabalha nesta àrea?
Todas as provas cegas em que participo. É imensamente gratificante constatar a minha ignorância em determinados aspetos… Mostra que há um longo caminho pela frente, o que é sem dúvida apaixonante.

por Mário Rodrigues