Felizmente fui construindo um percurso como provadora de vinhos e aumentando os meus conhecimentos através de uma carreira académica na escola inglesa –  Wines & Spirits Education Trust

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Foto de Raul Lufinha

Olga Magalhães Cardoso, Partner & Co-Founder na empresa Blend All About Wine, Lda, natural do Porto. Experiência no Sector do Vinho (7 anos): Wine Blogger até Janeiro de 2013 (Minha Louca Paixão), Redatora da Imprensa especializada e Provadora em painel residente de uma revista de vinhos (até Março de 2013); Membro de júri em concursos vínicos de âmbito nacional e regional e do concurso anual “A Escolha da Imprensa” da Revista de Vinhos; WSET Level 3 – Award in Wines and Spirits (Distinction).

Como e quando despertaste para o mundo do vinho?
É uma pergunta perante a qual tenho sempre uma certa dificuldade em responder. Em Setembro de 2007, dei por mim profundamente interessada em perceber mais sobre vinhos, o que me conduziu a uma pesquisa incessante sobre o tema na internet e a uma procura de bons cursos de iniciação à prova.

No entanto, e mesmo sem ter consciência disso, acho que já era algo latente dentro de mim. Recentemente vi um video familiar, ainda sem som e a preto e branco, captado no longínquo natal de 1979, tinha eu apenas 9 anos de idade.

Nesse video, não sendo obviamente ainda uma consumidora de vinhos, reparei que já me concentrava nas garrafas, a tentar ler e decifrar o que os rótulos diziam.

Posso, contudo, situar a minha iniciação ao mundo do vinho num curso que fiz em Outubro de 2007. Nesse curso, pude não só perceber como o vinho é produzido, como ainda provar vinhos nacionais e internacionais de elevada qualidade.

Qual o teu percurso profissional?
Sou jurista de formação. O meu percurso profissional foi, até Dezembro de 2013, todo ele ligado à advocacia e à actividade bancária. No sector do vinho, iniciei-me como blogger, com um blog sobre vinhos que criei em 2009 e que se chamava Minha Louca Paixão. Em Fevereiro de 2010, passei a integrar o painel de provadores da revista Paixão pelo Vinho, onde também fui redactora.

Em Janeiro de 2013 terminei a minha actividade enquanto blogger, até porque acho que os wine bloggers não são devidamente reconhecidos em Portugal, tendo também terminado a minha coloboração com a revista acima referida em Março do mesmo ano.

Efectivamente, em Março de 2013, inicie a construção de um projecto, juntamente com a minha sócia Patrícia Pais Leite, o qual visa a promoção e divulgação internacional dos vinhos portugueses.

O projeto chama-se Blend | All About Wine e costumamos designá-lo como um espaço integrado e transversal de comunicação de vinhos portugueses, uma vez que o mesmo, hoje já uma empresa, actuará, através de uma equipa composta por elementos nacionais e estrangeiros, em três áreas sinergéticas de negócio: a área da escrita, a área dos eventos e a área do enoturismo.

Está online desde 21 de Abril último no site www.blend-allaboutwine.com, no facebook em https://www.facebook.com/blend.allaboutwine e brevemente noutras redes sociais.

Quais foram os teus maiores desafios?
O maior desafio foi mesmo conseguir colocar um fim na minha carreira como advogada e bancária e dar o salto para o mundo do vinho a tempo inteiro.

Em Portugal, e sobretudo nesta fase de depressão económica-financeira, tudo se torna mais difícil. Felizmente fui construindo um percurso como provadora de vinhos e aumentando os meus conhecimentos através de uma carreira académica na escola inglesa –  Wines & Spirits Education Trust.

No entanto, nada disto seria possível sem a preciosa ajuda e parceria da Patrícia Pais Leite, com a qual implementei, como já referi, a Blend | All about Wine.

O que achas mais relevante na evolução do Mercado dos vinhos?
Bom, isto é uma pergunta que me permitiria falar ou escrever de forma quase incessante. Mas poderei referir o esforço que tem vindo a ser efectuado por alguns produtores e algumas Comissões Vitivínicolas pela promoção dos seus vinhos e regiões. No entanto, muito há ainda a fazer, quer no mercado nacional, quer no mercado internacional. O consumidor actual é cada vez mais exigente, pelo que adoptar uma comunicação eficaz e promover a formação e informação crescentes é hoje um imperativo.

O que pensas do serviço de vinhos nos restaurantes?
Infelizmente não penso o melhor. De uma forma geral, o serviço de vinhos em Portugal é ainda muito deficiente. Maus copos, más temperaturas e harmonizações pouco conseguidas. Contudo, existem já alguns bons exemplos. Com trabalho e esforço colectivo, acredito que poderemos chegar a bom porto. Precisamos de investir na formação daqueles que estão hoje ao serviço da hotelaria e restauração.

O que achas da penetração dos vinhos Portugueses no Mercado mundial?
Ora aqui está um tema que me apaixona. Como todos sabemos, Portugal padece de alguns pontos fracos. Em primeiro lugar, estão desde logo as nossas limitações geográficas. Produzimos vinho de norte a sul, de este a oeste, continente e ilhas incluídas. No entanto, somos realmente pequenos, com uma produção global de cerca de 6,3 milhões de hectolitros em 2013.

Se estabelecermos uma comparação com os maiores produtores mundiais (França, Itália e Espanha), que hoje em dia produzem cerca de 45 milhões de hectolitros cada um, conseguimos perceber toda a nossa pequenez.

Esta situação impede-nos de competir nos mercados internacionais em termos de volume. No entanto, também beneficiamos de algumas qualidades e de um grande potencial. Este pontencial reside essencialmente na singularidade e diversidade das nossas castas (somos detentores de um enorme património ampelográfico), na qualidade consistente dos nossos vinhos e na excelente relação qualidade/preço dos mesmos.

Assim sendo, estamos perfeitamente preparados para competir nos mercados internacionais de nicho. É aí que nos poderemos e deveremos colocar. Contudo, e para que isso resulte profícuo para os nossos produtores e para a nossa economia, torna-se necessário investir noutras vertentes.

Desde logo na formação. Portugal precisa educar os consumidores internacionais sobre os seus vinhos. Tal como outros países o fizeram anteriormente, caso da Austria com a sua casta Grüner Veltliner. É premente comunicar os nossos vinhos de forma eficaz nos mercados internacionais. Isso poderá conseguir-se através da realização de eventos bem pensados e bem conduzidos nos mercados-chave, através de uma correcta associação dos nossos vinhos a uma gastronomia nacional de qualidade e através do incremento do sector do enoturismo.

Qual foi o melhor vinho que tiveste oportunidade de provar?
Outra pergunta muito difícil. Felizmente já provei vinhos nacionais de elevadíssima qualidade. Situando-me apenas nas últimas provas, talvez possa eleger o Madeira Verdelho Solera 1898 da Henriques & Henriques. Embora suspeita, atenta a minha paixão pela casta verdelho, a verdade é que este vinho me deixou completamente rendida e fascinada. Tudo é ouro neste vinho. Desde a sua cor de um ouro envelhecido até à sua nobre e brilhante complexidade, tudo reluz, impressiona e subjuga! O nariz liberta aromas a frutos secos, mel e delicadas notas de madeira velha. A boca é intensa, volumosa e tremendamente cremosa. Um vinho de antologia!

Qual a experiência em restaurante que mais te impressionou?
Vou falar daquela que mais recentemente me impressionou e que aconteceu no dia 9 de Março de 2014, no Restaurante Palco do Hotel Teatro, no Porto. Sob a batuta do Chef Arnaldo Azevedo, pude apreciar diferentes iguarias, confeccionadas de forma inovadora e apresentadas de uma maneira capaz de fazer inveja a qualquer restaurante de remone internacional. É disto que Portugal precisa!

por Mário Rodrigues