Rui Moura Alves, enólogo, natural de Sangalhos na Bairrada. Aos 14 anos de idade iniciou a aprendizagem em laboratório de empresa na Bairrada e aos 17 anos  foi o responsável pela primeira vindima.

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Qual o seu percurso profissional?

O meu percurso na área da enologia, começa em 1957, tendo tido a sorte de ter como professores um grande enólogo… Calisto Palmeira, que me transmitiu ao longo de alguns anos todo o seu saber, bem como a sua biblioteca que guardo com muito carinho e a que ainda hoje recorro.  O ensino de enologia era transmitida pela prática nas empresas e pelo seu enólogo permanente. Paralelamente a este grande enólogo também os engenheiros agrónomos Arlindo Costa e Manuel de Oliveira Silvestre, este último diretor da Estação Vitivinícola da Beira Litoral (hoje E.V.B.). Tive naturalmente , todo um estágio, quase permanente, em análises, provas, ensaios e em vários cursos de vinificação e enologia na referida EVB. Também tive o privilégio de estagiar em Rioga (Espanha) e Bordeaux (França), além e conhecer todas regiões  e ser ainda actualmente enólogo em vários produtores no Pais.

Quais foram os seus maiores desafios?

1º – Na demarcação da Bairrada (1979) fui o enólogo que mais produtores engarrafadores entusiasmou e orientou para  mais elevar a marca Bairrada, em conjunto com as empresas e cooperativas existentes, além da minha colaboração na fundação da C.V.B e da câmara de provadores.

2º – Conseguir (sozinho) com a aceitação de alguns produtores que acreditaram em mim, manter um estilo de vinho natural – o que foi muito difícil – visto que a (evasão) das novas teorias na enologia por  interesse de algumas empresas, que não se aperceberam que a Bairrada devia ter o seu estilo, até porque temos a melhor casta de tintos do mundo, a baga, que a pouco e pouco vai sendo reconhecida como excelente em vários pontos do Mundo. Para reconhecimento desta minha teoria, a Bairrada (CVB) chamou à região em 1998 durante as jornadas vitivinícolas os ilustres Prof. François Murisier investigador da Estação Federal de Changins na Suiça e perito da OIV, e o famoso enólogo Jacques Boissenot, prestigiado enólogo de Bordéus e responsável de algumas das mais importantes casas produtoras como o Chateau Laffite, Margot e Latour!…em que concluíram: … que dos vinhos provados na região, de cooperativas, empresas e produtores, o elogio incidia sobre os vinhos Quinta das Bágeiras, Sidónio de Sousa e Casa de Saima (todos de minha orientação) por serem da casta baga e assim deixaram a sua  recomendação  que a Região deveria apostar nesta casta!… (publicado no livro Jornadas Vitivinícolas Maio de 1999  da CVB).

O que pensa do serviço de vinhos nos restaurantes?

Não tenho opinião concreta, mas o “Vinho a Copo” devidamente servido, deveria ser mais implementado.

Qual o melhor vinho que teve oportunidade de provar?

Muitos são os vinhos que provei ao longo de toda a minha actividade e muitos excelentes. Sou fã dos espumantes bruto natural, vinhos brancos e tintos naturais, por isso não posso deixar de me deliciar com os vinhos de que sou enólogo (claro que não vou mencionar nomes). Além desses, não posso deixar de referir os Barca Velha, pois apresenta-nos sempre um excelente vinho e natural.

Qual a experiência em restaurante que melhor o impressionou?

 Não posso deixar de mencionar o restaurante Rei dos Leitões na Mealhada, porque reúne todas as condições que se pretendem ou seja: um excelente espaço exterior devidamente cuidado; a excelente gentileza da gerência na recepção; as mesas com todos os requintes, desde a toalha e guardanapos de pano, o serviço de copos, etc… e ainda na parte gastronómica um leque de pratos (além do excelente leitão à Bairrada) tais como as enguias fritas e o cabrito de churrasco!…. enfim, isto além de todos uns miminhos nas entradas. Quanto a espumantes e vinhos, temos a possibilidade de escolher nos espumantes o bruto natural  e nos vinhos tintos também um bom leque de vinhos naturais, com o cuidado ainda de serem quase todos da Bairrada, o que infelizmente não acontece na maioria dos restaurantes na região.

 por Mário Rodrigues