Portugal deve promover a Excelência

jose conceicao g

por Mário Rodrigues

José Eduardo Reverendo Conceição, natural de Santa Marta de Penaguião, formou-se em Enologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, nascido e criado numa família que desde sempre esteve ligada à vinha e ao vinho. As origens remetem para uma quinta em Santa Marta de Penaguião e portanto para o Douro. Sempre teve como objectivo profissional trabalhar em vinhos.

Qual o seu percurso profissional nesta área?
Antes de vir para a Quinta da Sequeira tive a oportunidade de trabalhar em duas das grandes empresas do Douro: Real Companhia Velha e Symington.

Qual foi o seu maior desafio desde que teve início a sua atividade nesta área?
Foi sem dúvida alguma o projecto Quinta da Sequeira não só pela oportunidade de acompanhar todo o processo que vai da vinha até á vinificação mas também pela procura incansável de aumentar a qualidade dos nossos produtos.

O que acha deveria ser alterado na postura de alguns dos restaurantes e hotéis relativamente ao serviço de vinhos?
No passado os restaurantes possuíam garrafeira onde os vinhos adquiridos eram armazenados durante vários anos e este facto justificava as margens de lucro que os proprietários dos restaurantes aplicavam pois para além do espaço ocupado pelos vinhos que tinham o seu custo os restaurantes corriam também o risco de os vinhos não estarem nas melhores condições quando fossem servidos. Esse custo era sempre assumido pelos proprietários do espaço. Hoje em dia os restaurantes não fazem stocks e todas as garrafas que não estejam nas condições óptimas para consumo são reclamadas ao fornecedor, logo não se justifica as margens praticadas pelos restaurantes salvo algumas excepções. Estas margens levam a que a maior parte dos clientes estando a desfrutar de um prato de carne ou de peixe de “primeira” se faça acompanhar de um vinho de “terceira”.

Que história, pelo absurdo e/ou interessante, tem desde que iniciou a sua atividade?
Quando na Quinta da Sequeira tentamos fazer o primeiro “Colheita Tardia”, o caseiro que não sabia da experiência, em Novembro cortou as uvas para as dar às galinhas, pois entendeu que tinham ficado ali esquecidas. E assim se perdeu a primeira produção deste vinho que é mais uma imagem de marca da Quinta da Sequeira.

Qual o vinho que teve oportunidade de provar que mais o surpreendeu e de que país?
Foi um vinho do Porto da Quinta da Sequeira de 1900, foi uma experiência única provar um vinho com aquela concentração. Por muitos vinhos do Porto que prove no futuro este nunca me irá sair da memória.

Qual o restaurante que lhe proporcionou uma experiência inesquecível e porquê?
Restaurante Sueste situado na Vila Piscatória de Ferragudo, tem uma localização privilegiada sobre o rio Arade. O peixe e fantástico e tem um excelente atendimento.

O que acha sobre a evolução dos vinhos Portugueses no mercado mundial?
Todos os anos estou presente em Feiras Internacionais nomeadamente na Vinexpo, onde tenho oportunidade de provar vinhos de todo o Mundo. Verifico ano após ano que efectivamente os vinhos Portugueses de qualidade conseguem ombrear com qualquer vinho de “topo” produzido lá fora. Nos últimos anos a qualidade dos vinhos Portugueses teve um enorme acréscimo, mas infelizmente não é reconhecida e acabam por não ter a notoriedade que merecem. Sendo verdade que poucos anos decorreram desde que a qualidade dos vinhos Portugueses atingiu este nível, não é menos verdade que a sua promoção nos mercados externos têm-se muitas vezes focado em vinhos medianos ou até medíocres, e a opinião pública generalizada de alguns mercados externos reflecte precisamente este comportamento. É por isso que em alguns desses mercados Portugal é conhecido por ter vinhos fracos. Na minha opinião Portugal deve sim promover a Excelência e quando o fizermos tenho a certeza que os vinhos produzidos no nosso país irão ocupar o lugar que realmente merecem.